Sandra Regina Mendes e Lívia Diana Rocha Magalhães

OS ESTUDOS DE MEMÓRIA E A APRENDIZAGEM HISTÓRICA: UMA INTERLOCUÇÃO NECESSÁRIA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA NA CONTEMPORANEIDADE


Introdução

 

Para Jörn Rüsen (2010) o objetivo de pesquisa da Didática da História se centra em investigar o aprendizado histórico como uma das dimensões e manifestações da consciência histórica. Este aprendizado pode ser compreendido como “processo mental de construção de sentido sobre a experiência do tempo através da narrativa histórica, na qual as competências para tal narrativa surgem e se desenvolvem” (RÜSEN, 2010, p. 43). O autor reconhece a história escolar com um peso grande nesse processo de aprendizado, contudo não como única via. Pode-se inferir, portanto que, se a escola não é o único local de aprendizagem histórica, o currículo escolar também não é guardião da História.

 

Isso porque, a Didática a História

 

“incorporou a virada das ciências da educação para a teoria do currículo, situou o ensino de história no âmbito do amplo contexto de um processo planejável de aprendizado e analisou os fatores principais desse processo que vão bem além da escola, [levando] em consideração a subjetividade dos alunos, os processos de recepção da história e os interesses dos alunos como um tema essencial das reflexões didáticas; e ela tem, finalmente, como seu objeto principal a consciência histórica e seu papel na vida prática humana” (Rüsen, 2012, p. 70)

 

Tomando como base a leitura do autor, consideramos que a forma de expressão da consciência histórica, a maneira como as sociedades utilizam o seu passado com objetivo de orientação temporal para a vida cotidiana e prática, nos permite associar sua discussão aos estudos que aproxima a história do campo da memória social. O fato é que as discussões sobre os modos possíveis de fazer os estudos da História, não é nova, mas Rüsen (2010) nos instiga a pensar educação historiográfica, a sala de aula, a história, o oficio do professor de história, em seu sentido amplo, sua manifestação em diversos espaços sociais e o oficio de professores. Nesse intuito, consideramos importante situar o debate iniciado pela historiografia contemporânea sobre o debate memória e história, considerando que esse tem sido o nosso objeto de estudo para pensar a educação, as políticas educacionais e o ensino de história.

 

Considerando a contribuições da teoria sociológica da memória desenvolvida por Maurice Halbwachs (2004; 2006) diríamos que a consciência histórica é constituída dentro de marcos sociais de referências na construção de uma memória coletiva vivida ou recebida nos processos de interação cultural, moral, material. Assim sendo, vislumbramos nos estudos da memória social subsídios teóricos importantes para a análise de narrativas que circulam nos diversos espaços sociais e seu comparecimento, muitas vezes informal, na aula de História. Nessa perspectiva, a investigação proposta por Rüsen (2010) sobre as múltiplas possibilidades de pensar os modos de fazer e pensar a história nos múltiplos espaços educativos, nos incentivou fazer uma breve revista revisita às contribuições iniciadas por alguns dos membros franceses da Revista dos Annales no que diz respeito a dialogia entre História e Memória, a partir das contribuições de Halbwachs.

 

Memória e História: uma trajetória diacrônica ou antinômica?

 

Maurice Halbwachs propôs um estudo da memória a partir de uma perspectiva e base coletiva, com intenção de consolidar a sociologia enquanto ciência em um cenário de disputas epistemológicas. Seu estudo comparece no embate epistêmico da época entre as correntes espiritualista e racionalista, dos quais são expoentes, respectivamente, os dois mestres do autor, Henri Bergson e Émile Durkheim. Não só comparece, como aparece, dialoga, diverge dos seus dois professores e provoca uma renovação das ciências humanas, a partir de questões que a sociedade do final do século XIX e início do século XX colocava.

 

Ao pensar sobre essa sociedade, Halbwachs (2004; 2006) a compreende de forma ampla, abrangendo também a memória social que, em sua teoria denomina “coletiva”, que se ancora em quadros sociais que são compreendidos como

 

[...]combinación de los recuerdos individuales de muchos miembros de una miesma sociedad. [...]estes marcos colectivos de la memoria no están formados luego de un proceso de combinación de los recuerdos individuales. [...] no son simples formas vacías donde los recuerdos que vienen de outra partes se encajarían como en um ajuste de piezas; todo lo contrario, estos marcos son- precisamente- los instrumentos que la memoria colectiva utiliza para reconstruir uma imagem del pasado acorde con cada época y en sintonía con los pensamentos dominantes de la sociedade. (HALBWACHS, 2004, p. 10, grifo nosso)

 

É possível entender que, para o autor, os membros de uma mesma sociedade compartilham, em um processo de entrecruzamento, memórias individuais e dos grupos que estão inseridos. A vivência dos indivíduos é relacional ao conjunto de eventos vividos nas interações grupais, por isso, interessa ao autor, analisar os suportes de rememoração, conceituados como os marcos coletivos da memória: os lugares, as convenções verbais entorno da linguagem, a família, instituições, as crenças religiosas e as classes sociais. Os marcos, portanto, são constituidores das memórias individuais e coletivas dos grupos, referenciais para construção da memória e alicerce das memórias individuais, sociais e coletivas.

 

A chave de leitura que Halbwachs propõe situa a memória como dependente “do entorno social” (HALBWACHS, 2004, p. 7), visto que é na sociedade que o indivíduo adquire suas recordações, bem como as evocam, as reconhecem e as localizam. Conforme colocado, para Halbwachs (2004), a memória coletiva se ancora em quadros sociais.

 

Importante destacar ainda que o autor de Memória Coletiva, trabalha ainda com o termo “memória histórica” para se referir aos acontecimentos da nação, selecionados de forma esquemática para serem transmitidos como narrativa única, exterior à vivência dos indivíduos. Entretanto, ao serem transmitidas e aprendidas, circulam socialmente e fornecem sentido para se construir uma coesão dos estados nacionais, fundamentada no mito de origem comum, essencial para manutenção do sentimento de nação. Nessa discussão, a ciência histórica é compreendida como totalmente apartada da sociedade e lacunar em relação aos estudos que contemplam multiplicidade de vivências e experiências presentes nas memórias dos grupos, nas memórias coletivas. Halbwachs (2004;2006) faz críticas a História com base epistemológica positivista ainda com grande inserção no momento. Parte então para um embate intelectual que impacta não apenas a história, mas todas ciências humanas.

 

Parte do caminho de Halbwachs (1877-1945) se deu em 1919 quando ele se tornou professor de Sociologia na Universidade de Estrasburgo passando a dialogar com um grupo interdisciplinar extremamente atuante, liderado pelos historiadores Lucien Febvre (1878-1956) e Marc Bloch (1886-1944), com contribuição de intelectuais como o psicólogo Charles Blondel (1876-1939), o literato Henri Bremond (1865- 1933), historiador Georges Lefebvre (1874- 1959).

 

Bloch e Febvre fariam um movimento intelectual, mais tarde conhecido por Annales em alusão a revista fundada, em busca da substituição da tradicional narrativa de acontecimentos por uma história-problema; um fazer historiográfico de todas as atividades humanas, não apenas história política e por uma colaboração com outras disciplinas, dentre as quais a psicologia, a economia, a linguística, a antropologia social, geografia e sociologia. De acordo com Burke (1992, p. 20), “Estrasburgo era efetivamente uma nova universidade, pois a cidade vinha de ser recentemente desanexada da Alemanha, criando um ambiente favorável à inovação intelectual e facilitando o intercâmbio através das fronteiras disciplinares”.

 

Nesse cenário efervescente de redimensionamento dos paradigmas científicos em vigor e formação de novos campos da ciência, objetivando compreender a sociedade em transformação, ainda fortemente impactada pela primeira guerra, situa-se o pensamento halbwachiano. Burke (1992, p. 20) afirma que o “estudo [de Halbwachs] sobre a estrutura social da memória, publicado em 1925, causou profunda impressão em Bloch”. Na resenha que elaborou sobre o livro de Halbwachs, Bloch (1925) conclui sua resenha afirmando que

 

É somente através de debates intelectuais desse tipo que podemos ter esperança de avançar as ciências sociais. Não há perigo maior do que um dogmatismo estreito, que levaria os historiadores e sociólogos a ignorarem uns aos outros ou descartar os trabalhos uns dos outros. [...] [O livro] nos leva a refletir sobre as condições do desenvolvimento histórico da humanidade, de fato, como pareceria este desenvolvimento sem "memória coletiva"? (BLOCH, 1925, tradução).”

 

Em 1929, foi fundada a revista Annales d’Histoire economique et sociale, para dar concretude ao movimento intelectual que os historiadores estavam propondo. O ineditismo em produzir uma teoria da sociologia da memória, leva Halbwachs a colaborar com o periódico de forma relevante, trazendo para o centro das discussões o tema da memória que, apesar de ter um objeto comum com a história, “o tempo”, não havia sido incorporado pelo debate historiográfico.

 

Interessante que em 1939, Marc Bloch lançou o livro “A sociedade Feudal”, e fez, no Segundo Livro, Capítulo III, uma discussão intitulada “Memória Coletiva” onde trata da circularidade dos diversos tipos de conhecimentos e sua incorporação na produção escrita da idade média, compreendendo que nestes documentos, livros, biografias existiam não apenas vestígios da memória coletiva, como muitas vezes, tratava-se do registro da mesma, constituída de uma trajetória de acúmulos de transformações não situadas historicamente. A publicação de Bloch (1939) ratifica o impacto da teoria da memória e seus desdobramentos na historiografia, demonstrando que se em algum momento História e Memória se apartaram, na contemporaneidade, faz-se necessário colocá-las para dialogar.

 

Citando Halbwachs, Le Goff (1994, p. 432) afirma que “a sociologia representou um estímulo para explorar este novo conceito, assim como o conceito de tempo” O tema permitiu a transformação das ciências sociais, desempenhando um papel fundamental para a rediscussão ou ampliação da concepção de História.  Le Goff (1994) ainda discute a importância da obra “Memória Coletiva” de Halbwachs para etno-história ou antropologia histórica visto que “constituiu um dos desenvolvimentos recentes mais interessantes da ciência história” (1994, p. 432).

 

Considerações inconclusas

 

As discussões acima são incoproradas ou ampliadas por autores mais contemporâneos, entre os quais está EnzoTraverso (2012, p. 21-22) quando explicita

 

“História e a Memória nascem de uma mesma preocupação e partilham do mesmo objeto: a elaboração do passado[...] a história nasce da memória, de que é uma das dimensões, e posteriormente, adoptando uma postura auto-reflexiva, transforma a memória num dos seus objectos”.  Não se trata mais de limitar a Memória enquanto fonte” (2012, p. 21-22), visto que a memória possui questõs complexas e próprias a serem problematizadas.

 

As fronteiras que distinguiam passado, presente e futuro não estão tão mais evidentes, o que faz com que, frequentemente, as experiências e as memórias do passado invadam o tempo presente, inclusive no cotidiano da sala de aula, seja com questões colocadas pelos estudantes, seja com preposições trazidas pelos professores. Isso ganha mais forças em um mundo marcado pela ideia dos traumas coletivos: o holocausto, as ditaduras latino-americanas, a experiência da colonização, da escravização, dos refugiados de guerras, pandemias, dentre outros. Seria o “passado que não quer passar”. (TRAVERSO, 2012).

 

Em outras palavras, nos apoiando em Rüsen (2010) de que o objetivo de pesquisa da Didática da História é investigar o aprendizado histórico como uma das dimensões e manifestações da consciência histórica, nos aventuramos a realizar o diálogo entre História e Memória, uma vez que ambas incidem sobre diversos fenômenos inerentes a natureza da manifestação da consciência humana. Um ensaio teórico que busca problematizar a mobilização do conhecimento histórico. Para o autor (2012, p. 120)

 

“O passado é elevado à consciência de maneira tal que é transformado ou processado de modo interpretativo em capacidades para o domínio de tarefas do presente. Aprender é adquirir competência por meio de processamento de experiência. Isso vale certamente para o ensino de história na escola, em especial, mas também vale fundamentalmente para o trabalho de memória pública [...]. Trata-se continuamente de um processo de presentificação guiado por mais ou por menos perícia, o qual é endereçado a receptores, a um público, a uma comunidade, visando causar algum efeito. O passado é formulado como uma mensagem que deve ser entendida; ele é apresentado como uma experiência que deve ser interpretada e é formulado como uma interpretação que deve ser assimilada e aplicada a fins orientadores. Tratam-se sempre de transformações na subjetividade dos receptores, de assimilações e mudanças que deve pôr os sujeitos em movimento, transformá-los.”

 

E assim, sendo, consideramos fundamental o diálogo entre campos de conhecimento para elucidação da experiência do tempo através da narrativa histórica para pensarmos a discussão da História em contextos escolares, sem desprezar os processo de aprendizado histórico e as múltiplas dimensões da manifestação da consciência histórica em um dado estágio societal.

 

Referências biográficas

 

Ms. Sandra Regina Mendes, professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Campus XVIII); Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Memória: Linguagem e Sociedade.

 

Drª. Lívia Diana Rocha Magalhães, professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Programa de Pós-graduação em Memória: Linguagem e Sociedade.

 

Referências bibliográficas

 

BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 1982.

BURKE, Peter. A revolução francesa da historiografia: A Escola dos Annales (1929-1989). 2 ed. São Paulo: Editora UNESP, 1992.

 

 

BARCA, I. Educação Histórica: uma nova área de investigação. História. Revista da Faculdade de Letras, Porto, III, série, v.2, 2001.

 

CARDOSO, Oldimar. Por uma definição de Didática da História. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 28, nº 55, p. 153-170, 2008.

 

FÉLIX, Loiva Otero. História e memória: a problemática da pesquisa. Passo Fundo: Ediupf, 1998.

 

FERREIRA, Elenice Silva. A memória como objeto de análise e como fonte de pesquisa em História da Educação: uma abordagem epistemológica. Revista RBBA-Binacional Brasil Argentina, v.4, nº 1, p. 21-47, Vitoria da Conquista, julho/2015. Disponível em:

https://periodicos2.uesb.br/index.php/rbba/article/view/1427/1234. Acesso em: 20 de agosto de 2020.

 

HALBWACHS, Maurice. A Memória coletiva. São Paulo: Editora Centauro, 2006.

 

HALBWACHS, Maurice. Los marcos sociales de la memoria. Rubí (Barcelona): Anthropos Editorial; Concepción; Universidade de la Concepción: Caracas; Universidade Central de Venezuela, 2004.

 

PERALTA, Elsa. Abordagens teóricas ao estudo da memória social: uma resenha crítica.  Revista ArquivoS da MemóriA: Antropologia, Escala e Memória, n. 2 (nova série), Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa, 2007.

 

SADDI, Rafael. O parafuso da didática da história: o objeto de pesquisa e o campo de investigação de uma didática da história ampliada. REVISTA ACTA SCIENTIARUM EDUCATION, Maringá v. 34, n. 2, p. xx-xx, July-Dec, 2012.

 

RICOUER, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 2007.

 

RÜSEN, Jörn. Aprendizagem histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba, W.A. Editores, 2012.

 

RÜSEN, Jörn. Jörn Rusen e o ensino de História. Organizadores: SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão de Rezende. Curitiba: Ed UFPR, 2010.

 

TRAVERSO, Enzo. O passado, modos de usar: História, Memória e Política. Belém/PA: Edições Unipop, 2012.

8 comentários:

  1. Obrigado pela reflexão! Sempre importante e necessária! Mas em direção a proposta do simpósio! Como podemos trabalhar, relacionar a historiografia com a memória social, através do ensino escolar de história? Abraços

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    1. Bom dia Everton, primeiramente agradecemos pela sua questão. A interação, mesmo remotamente, é um alento em tempos pandêmicos.
      Compreendemos que sua pergunta tange para aspectos metodológicos, quando questiona COMO. Assim, optamos responde-la a partir de alguns elementos que tomamos como necessários para estabelecer essa relação:
      • Considerar que Memória e História não são antagônicas, mas possuem especificidades, é importante que os professores tenham essa dimensão e passem a pensar nessas diferenças;
      • Refletir sobre a potência da memória social no cotidiano dos estudantes, pois ela age o tempo inteiro nas decisões e reflexões que os alunos fazem. Os estudantes a traz para sala de aula, compõe o pensamento prévio deles, assim, porque não dialogar com essa memória social? Ficar atento como ela age no processo de aprendizagem.
      • Para o ensino de História é interessante assim, evidenciar a memória não apenas como FONTE, mas como OBJETO das discussões desenvolvidas nas aulas. O que irá permitir suplantar a existência de VERDADE ABSOLUTA, ao mesmo tempo que poderá suscitar: - MÚLTIPLAS memórias, valorização das MEMÓRIAS DOS VENCIDOS, problematizar como se efetiva a CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA e seus usos e abusos, como a manipulação.
      • Entendemos, portanto, que ao tomar a memória como objeto há mobilização de processos cognitivos centrais para compreensão do pensamento histórico, constituído não apenas de saberes sistematizados pela ciência histórica, mas também por pensamentos e saberes do passado que estão ideologicamente construídos, esquecidos ou necessitando trazer à tona através da MEMÓRIA.
      Esperamos ter atendido, caso ainda tenha ficado questões, estamos disponíveis, gratas mais uma vez,
      Lívia Diana Rocha Magalhães e Sandra Regina Mendes

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    2. Gostei! Obrigado! Avante e juntos! Abraços!

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  2. O texto apresenta uma importante reflexão sobre a relação entre memória social e aprendizagem histórica. Atualmente, identificamos na sociedade brasileira a presença de concepções negacionistas da História e de fatos históricos. Nesse cenário, é possível identificar elementos da nossa memória social e da aprendizagem histórica escolar que, de certa forma, contribuíram para a circulação dessas ideias?

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    1. Prezada Thais, obrigada pela sua pergunta. Ricouer (2006) aponta que todo uso da memória, abre possibilidades para o seu abuso. Desta forma, a memória social pode sim ser manipulada ideologicamente com fins de circulação das ideias negacionistas. O que coloca, ainda mais a necessidade de estarmos em alerta sobre a potência da memória, tratando para além do status de fonte, mas como parte das ferramentas de entendimento dos estudantes. Um estudo interessante foi desenvolvido no mestrado em Memória, Linguagem e Sociedade, por Elis Saraiva de Santana, observando como a produtora Brasil Paralelo vem se apropriado e se apoiando numa memória social para forjar o que eles chamam de “uma nova história do Brasil”
      Agradecemos Sandra Regina Mendes e Lívia Diana Rocha Magalhães

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  3. Parabéns pelo texto! Obrigada pela reflexão! Gostaria de saber se, atualmente, vocês enxergam que a memória social que nós, professores, repassamos em sala de aula, é reflexo do conteúdo imposto?

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    1. Olá Anelisa, obrigada! Bom saber da sua leitura. Acreditamos que o termo imposto pode ser repensado, visto que as problemáticas da memória estão tangenciadas por questões que são, muitas vezes, ideologicamente manipuladas, como diria Ricouer, assim, seria um "imposto disfarçado” se poderíamos assim denominar.
      Tomando Halbwachs (1925/2004), o primeiro a pensar a memória a partir de uma base social e não psicológica e criador do termo “memória coletiva”, vamos observar o seguinte: toda memória, mesmo sendo uma atribuição do indivíduo, possui elementos da coletividade pois, ela se ancora em marcos sociais coletivos, tais como: a linguagem, a religião, a família, os espaços, o trabalho dentre outros. Em um primeiro momento a tese de Halbwachs pode parecer determinista ou, utilizando o termo colocado por você, “uma memória imposta”. Contudo, podemos relativizar esse movimento ao considerarmos que:
      “as formas de sentir e pensar são construídas a partir das experiências. Significa dizer que nessas experiências também comparece, entre outros, a memória do acervo histórico cultural e das relações afetivas, que são parte integrante dos processos de produzir a existência humana. Sendo assim, embora historicamente determinadas, as experiências individuais e coletivas se articulam a sentimentos, valores, símbolos, expectativas e vão conformando a construção de uma memória do trabalho, na qual as relações sociais que se engendram e atuam entrelaçam significados e produzem memorias vividas, recebidas, herdadas e transformadas. E, por sua vez, operam sobre a realidade da vida social ordinária, do trabalho, das relações socioculturais, construindo uma memória coletiva, no caso, de classe, que enlaça esses grupos a experiências passadas” (MAGALHÃES, TIRIBA, 2018, p. 11)
      Portanto, acreditamos que que a memória social que os professores repassamos em sala de aula são resultados das experiências dialeticamente vivenciadas em suas relações sociais.
      Segue a referência utilizada:
      HALBWACHS, Maurice. Los marcos sociales de la memoria. Rubí (Barcelona): Anthropos Editorial; Concepción; Universidade de la Concepción: Caracas; Universidade Central de Venezuela, 2004.

      MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha; TIRIBA, Lia. Introdução Experiência- um termo ausente. In: MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha; TIRIBA, Lia (org.). Experiência: o termo ausente? Sobre história, memória, trabalho e educação. Uberlândia: Navegando publicações, 2018.

      Agradecemos mais uma vez,
      Lívia Diana Rocha Magalhães e Sandra Regina Mendes

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  4. Parabéns pelo texto! Obrigada pela reflexão! Gostaria de saber se, atualmente, vocês enxergam que a memória social que nós, professores, repassamos em sala de aula, é reflexo do conteúdo imposto?

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