Sandra Gorete Gomes de Oliveira e Jeferson José Gevigier

O LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA (LDH) E O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL 1964 – 1985


O livro didático é um produto cultural, suas abordagens se diferenciam de época em época, privilegiando ideologias de acordo com o contexto histórico atual se transformando num objeto carregado de valores que serão transmitidos para alunos. O que é omitido ou mostrado tem a ver com a cultura que se pretende impor nas gerações presentes e futuras.

 

Assim, os livros didáticos cumprem um papel social na difusão e apropriação de ideias, que contribuem para a formação da sociedade. São ainda considerados fontes confiáveis pelos alunos. O professor, nessa relação livro didático e alunos desempenha um papel cultural importante: é o mediador dessa interação. É o professor quem vai avaliar a produção, e consequentemente valorizá-los, mostrá-los aos alunos ou simplesmente desacreditá-los. Por isso, analisar toda a obra, sua representação, seu discurso, é relevante para conduzir o trabalho nas aulas, enriquecendo ou mesmo prevenindo, contra interpretações que podem desvirtuar a formação cidadã nos estudantes, estimulando-os ao entendimento de respeito à democracia, tolerância e reconhecimento dos direitos humanos como fator primordial para avançarmos em uma sociedade mais justa.

 

O papel dos materiais didático no ensino e na aprendizagem histórica analisando como os materiais didáticos influenciam a formação do professor e como contribuem na formação dos alunos (BITTENCOURT, 2008). Ela acredita que para esclarecer essas questões é preciso compreender três aspectos essenciais dos materiais didáticos: sua concepção, a relação entre produção didática e indústria cultural, e os usos dos materiais didáticos.

 

O livro didático está entre os mais populares materiais didáticos usados pelos professores e alunos. É difícil defini-lo, porém é fácil identificá-lo. Os livros didáticos de história (LDH), passaram por uma grande transformação após a Segunda Guerra Mundial. Esse movimento tem como objetivo auxiliar nas transformações a partir de novas concepções e novas abordagens, que seriam incentivadas, para compor uma produção didática com tendências para promoção da paz, com exemplos históricos de soluções de conflitos por meio de acordos e negociações. Dessa forma o LDH seria o suporte educacional que contribuiria para despertar na população sentimentos de tolerância e solidariedade entre os povos, abandonando visões ultrapassadas, que valorizavam uma visão bélica.

 

Mesmo com tais mudanças, os LDHs muitas vezes são culpados pelas mazelas do ensino de História, por isso, sua análise é um tema polêmico. Diversas pesquisas o apontam, como o principal instrumento da perpetuação do ensino tradicional, impregnado de ideologia dos detentores do poder. Todas essas críticas nos levam a pensar que seja possível existir um livro didático ideal, que seja capaz de resolver todas as suas deficiências (BITTENCOURT, 2008). O livro didático é sempre alvo de debates e análises por parte daqueles que se interessam pelo ensino de História nas escolas, e questionam: quais qualidades ele deve ter?

 

Essa pesquisa analisa como os LDHs podem influenciar no desenvolvimento cognitivo dos estudantes, mais especificamente como o Regime Militar brasileiro (1964 – 1985) é representado nos livros didáticos de Alfredo Boulos e Ronaldo Vainfas et al. Qual discurso eles utilizam? Eles contribuem para o desenvolvimento da consciência história dos estudantes? Como podemos perceber que os alunos alcançaram uma aprendizagem histórica satisfatória?

O bom LDH deve ser capaz de estimular nos estudantes, capacidades que são primordiais no ensino de história, julgar, argumentar e criticar (RÜSEN, 2010). Essas são competências que devem ser desenvolvidas por meio do trabalho de interpretar o passado, com problematizações, usando as referências dos estudantes de modo argumentativo para que possam se converter em conhecimento, em consciência histórica. Dessa forma, o autor expõe como deveria ser o LDH ideal.

 

“Tem que apresentar os procedimentos mais significativos do pensamento histórico, e de tal modo que possa se exercer na prática: o desenvolvimento de problemas, o estabelecimento e a verificação de hipóteses, a investigação e a análise do material histórico, a aplicação crítica de categorias e padrões de interpretação globais. Deve oferecer explicações inteligíveis e verificáveis, sem se limitar, entretanto, a meras afirmações de fatos, bem como evitar por princípio argumentações monocausais e insistir no fato de que a interpretação histórica está aberta por princípio às argumentações multicausais. Assim, deve apresentar o conhecimento histórico de forma argumentativa, e evitar qualquer aparência de uma certeza dogmática e definitiva” (RÜSEN, 2010, p. 123).

 

O LDH deveria não só orientar sua perspectiva em direção aos temas históricos, mas relacioná-lo com a construção de identidade dos alunos, ativando seu potencial de aprendizagem (RÜSEN, 2010). O autor acredita que o futuro dos estudantes, é configurado de acordo com sua consciência histórica e o LDH, é um elemento fundamental para alcançarmos esse objetivo.

 

Os estudantes da educação básica, necessitam de abordagens adequadas à sua idade, e capacidade cognitiva (MUNAKATA, 2013). Segundo o autor, algumas pesquisas afirmam que nas séries iniciais, deve-se privilegiar a memorização, com os alunos mais velhos a reflexão. Afirmam também que a inteligência não funciona no vazio, que acontece por associação e combinação. Para evoluirmos, é preciso guardar na memória certa quantidade de dados para que você consiga introduzir e relacionar novas informações e formular hipóteses e reflexões.

 

A consciência histórica é essencial para compreendermos os diversos caminhos que percorremos com a narrativa histórica, o que auxilia na formação da identidade histórica dos alunos. Sem ela não há aprendizagem histórica. Se os estudantes não relacionarem sua própria experiência com conceitos de temporalidades, eles não conseguirão pensar historicamente, para isso devem realizar a formação histórica, que envolve dois aspectos: vida prática e ciência, aspectos interligados. O livro didático deve oferecer a possibilidade de verificar as interpretações dadas e de elaborar interpretações próprias, ou melhor, mediante a própria interpretação, estabelecer contextos históricos com base na documentação dada junto à exposição de autores concretos ou complementares a ela (RÜSEN, 2010).

 

É imprescindível que os estudantes relacionem a vida prática e o processo de ensino e aprendizagem histórica. A vida prática é o ponto de partida e chegada do ensino de História (SCHMIDT, 2017). Assim, é preciso partir das indagações dos alunos, que estão relacionadas com o mundo deles, fazendo sentido para sua vivência. Segundo a autora, devemos rejeitar o que ela chama de educação bancária, na qual o aluno é mero depósito de conteúdos previamente selecionados. Dessa forma, quando relacionamos o conhecimento ensinado e a vida prática dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem a partir do conhecimento produzido, podemos nos ver, ver o outro e ver o mundo. O ensino e a história encontram seu sentido na vida prática humana, a aprendizagem tem que fazer sentido para o aprendiz.

 

“Nunca se pode dissociar a aprendizagem histórica do sujeito que aprende, por exemplo, o jovem e a cultura jovem e, portanto, a dinâmica da aprendizagem não se realiza quando a história é ensinada como algo dado e alheio ao sujeito que aprende. Assim, saber história não é a mesma coisa que pensar historicamente correto, pois o conhecimento histórico que é apenas apreendido como algo dado, não desenvolve a capacidade de dar significados para a história e orientar aquele que aprende de acordo com a própria experiência histórica.” (SCHMIDT, 2017, p. 75)

 

A proposta é que o ensino de História tenha como objetivo a formação de uma consciência histórica, rompendo com formas tradicionais lineares, bem como visões históricas prontas e acabadas. É preciso se lembrar da pergunta para que serve a história? O desenvolvimento da consciência histórica é a finalidade do ensino e sua utilização na vida cotidiana (SCHMIDT, 2017).

 

O livro didático sendo uma mercadoria, um produto da indústria cultural, se insere numa lógica de consumo na qual a figura do professor é o principal alvo desse mercado e o aluno é o consumidor compulsório. Os estudos sobre o LDH no Brasil se iniciaram na década de 1980. As universidades vão ser o centro das análises e pesquisas sobre o LDH. A Unicamp é a pioneira nesses estudos que visavam principalmente a crítica da ideologia sobre sua produção, que era fruto principalmente dos anos de ditadura que o país havia vivido. Os livros didáticos geralmente são instrumentos reprodutores de ideologia e manipulação política sobre o público escolar.

 

Com a democratização brasileira, na década de 1990, as análises sobre o LDH, se tornaram mais amplas, complexas, com novas perguntas e problematizações acerca da mediação dos professores entre LDH e estudantes. As mudanças tornaram necessárias reformas curriculares, com a realização de debates para que fossem formuladas novas propostas e incorporadas abordagens que refletissem a realidade do Brasil. A crítica sobre o domínio da história oficial foi grande, porém, não houve grandes avanços. Os progressos conquistados foram garantidos a partir da pressão de grupos sociais: novos conteúdos foram inseridos no currículo, como história da África, afrodescendente, indígenas, mulheres.

 

O esforço dos historiadores e professores para superarem o método centrado na memorização e valorizassem a reflexão, foi grande (MUNAKATA, 2013). Não se trata apenas de mudanças metodológicas, mas de uma reformulação completa dos paradigmas epistemológicos e pedagógicos até então existentes. Mesmo com grandes mudanças na abordagem, de uma história oficial para uma história científica, essa transformação ainda é um desafio. Para o autor, a história escolar não superou por completo a história oficial, que privilegia alguns atores históricos, ressaltando a necessidade de reformulação de currículo. Ele defende a ideia de que já houve muitas tentativas no Brasil de reformular o currículo da história ensinada. Ele também afirma que agitações superficiais, com algumas alterações sem a promoção de uma séria reflexão e reestruturação nas disciplinas que constituem a escolarização contemporânea, são inócuas.

 

A didática da História é uma área que se preocupa com ensino da História escolar. Seu objetivo é pensar como se ensina e como se aprende os conceitos históricos formadores da consciência histórica. O propósito de todo ensino é a aprendizagem, mas para se ensinar é preciso compreender como os indivíduos aprendem. A concepção de aprendizagem como ponto de partida e pressuposto orientador do método de ensino da História, bem como sua complexidade e diversidade de abordagens do conteúdo está no centro do processo de aprendizagem (SCHMIDT, 2017). É a partir dessa concepção que acontece o desenvolvimento da capacidade de pensar historicamente, possibilitando aos estudantes se apropriar de conceitos que irão desenvolver sua consciência histórica.

 

A escola é fundamental para a formação da consciência histórica, e compreender o LDH neste contexto, é importante para entender sua participação nesse processo (Schmidt, 2017).

“Assim, a História tem uma função didática de formar a consciência histórica, na perspectiva de fornecer elementos para uma orientação, interpretação (para dentro – apropriação de identidades, e para fora – fornecendo sentidos para ação na vida humana prática” (SCHMIDT, 2017, p. 64).

 

O LDH é o livro mais analisado, por seu papel político, valores culturais, etc, com o passar do tempo, outras preocupações foram acrescidas como defasagem de conteúdo, ausência de grupos minoritários de poder. Bittencourt (2008) faz uma crítica das análises baseadas somente na conotação ideológica, segundo ela é importante, mas não contribui de modo significativo em seu aperfeiçoamento. Atualmente, as preocupações estão mais centradas na compreensão das relações entre conteúdo escolar e métodos de aprendizagens, política pública, relação entre conteúdo e LDH, os usos que professores e alunos fazem do livro, etc.

 

A preocupação dos analistas também cobre o caráter ideológico dos autores das obras didáticas e a vinculação entre o conhecimento histórico acadêmico e o escolar. Os autores dos LDHs, devem atrelar as pesquisas historiográficas aos parâmetros acadêmicos para garantir a qualidade e a autenticidade dos conteúdos.  Essa preocupação está presente nessa análise. O conhecimento produzido na academia deve ter como principal objetivo o público escolar, no qual a consciência histórica começa realmente a ser desenvolvida.

 

A academia, além de fornecer pesquisas para melhorar o debate historiográfico, contribuiu com questionamentos sobre as avaliações dos livros didáticos. Os responsáveis por referendar as obras são intelectuais de instituições públicas que podem interferir nas mudanças ou aperfeiçoamento da produção, bem como no papel dos professores que irão escolher e usar a obra em suas aulas, colocando-o em contato com os alunos. A eles cabe também limitar a interferência das grandes editoras na escolha das obras pelos professores.

 

Demonstrando outra preocupação que enriquece nossa pesquisa, sobre a constituição de uma memória coletiva baseada nos LDHs se relaciona com a função que o material didático exerce na formação de nossos estudantes (BITTENCOURT, 2011). A autora afirma que não existe pesquisa que deixe clara essa relação, comprovando de maneira categórica a influência do LDH na constituição de uma memória coletiva. Porém os indícios dessa relação são fortes. Para a maioria dos estudantes ele é, muitas vezes, a única fonte histórica com a qual tem contato em sua vida escolar. Nosso país, é carente em leitura e a escola, é onde os alunos são estimulados a ler.

O livro didático adquiriu muita importância nas últimas décadas, de abominável passou a ter importante papel nas escolas, mas ainda não alcançou sua plenitude como material escolar de qualidade (BITTENCOURT, 2011). Seu valor, enquanto agente de conhecimento crítico e problematizador, ainda tem muito a avançar. Por isso as análises devem continuar, para que consigamos melhorar nossos livros didáticos de história.

 

Uma referência importante sobre os currículos, que está no centro da educação, e nele está contido as representações entre saber, poder e identidade (SILVA, 2001). O autor faz uma abordagem dos estudos curriculares, permeada pela crítica na área educacional e curricular. Ele coloca o contexto atual para expor suas ideias sobre as reformas educacionais, a restruturação do currículo é um dos elementos centrais dos debates, pois, sua posição estratégica se desdobra as lutas em torno dos diferentes significados sobre o social e sobre o político. É por meio do discurso da política educacional, que principalmente os grupos sociais dominantes demonstram seu poder, disseminando sua visão de mundo, seu projeto social, sua verdade, sendo assim, um elemento simbólico, e as políticas educacionais devem ser vistas também como representação.

 

As políticas curriculares geram muito materiais, entre eles, o livro didático. Sua influência na relação entre professores e alunos; qual conceito de conhecimento é almejado; a elaboração de critérios avaliativos, a inclusão de certos saberes e indivíduo. O currículo estabelece diferenças, constrói hierarquias, produz identidades (SILVA, 2001). O autor propõe uma nova forma de ver o currículo, de impor reflexões críticas. O currículo deve ser dinâmico, flexível às transformações sociais e culturais. O currículo não pode ser engessado, não permitindo que seja atingido pelos novos ares, através de novos conteúdos, que contemple novas visões de mundo, como inserção de grupos sociais.

 

“Pelas mesmas razões, tampouco o currículo pode deixar de ser visto como uma relação social. O currículo visto como produto acabado, concluído, não pode deixar de revelar as marcas das relações sociais de sua produção. Desde sua gênese como macro texto de política curricular até sua transformação em microtexto de sala de aula, passando por seus diversos avatares intermediários (guias, diretrizes, livros didáticos), vão ficando registrados no currículo os traços das disputas por predomínio cultural, das negociações em torno das representações dos diferentes grupos e das diferentes tradições culturais, das lutas entre, de um lado, saberes oficiais, dominantes e, de outro, saberes subordinados, relegados, desprezados.” (SILVA, 2001, p. 22)

 

No projeto educacional crítico, pensar o currículo como ato político é inseri-lo nas relações de poder. O currículo educacional está no centro do palco de uma série de transformações sociais e educacional. É nele, que as lutas por hegemonias se concretizam, pelo domínio do processo de significação, que pode traduzir em seu discurso as visões e os significados do projeto dominante, dando legitimidade e autoridade. É para essa reflexão que o autor nos leva: o currículo vai continuar sendo um campo fechado, um estático tabu, a produção de significados e de identidades alternativas? Ou vamos fazer dele um campo aberto, polissêmico, de produção de identidade? (SILVA, 2001). É necessário tomarmos partido para que tenhamos voz e vez na sua construção.

 

Sendo o LDH um produto cultural, que suas abordagens se diferenciam de época em época, privilegiando ideologias de acordo com o conceito histórico, se transformando num objeto carregado de valores que serão transmitidos para alunos. O que é omitido ou mostrado tem a ver com a cultura que se pretende impor nas gerações presentes e futuras. Assim, as obras didáticas cumprem um papel social na difusão e apropriação de ideias que contribuem para a formação da sociedade. Ele ainda é considerado uma fonte confiável pelos alunos. O professor, nessa relação livro didático e alunos desempenha um papel importante, cultural, pois é mediador nessa interação.

 

O ensino sobre a ditadura no Brasil nos LDHs, vem ganhando maior destaque, o tema está se ampliando a partir de novos parâmetros historiográficos que dialogam com a ciência de referência, porém as abordagens ainda não trazem a visão mais aprofundada e problematizadora que o tema requer. Por ser um conteúdo da história recente do país, onde podemos perceber uma tensão, ou cuidado demasiado quando é abordado sem ser problematizado. Nesse contexto, inserem-se as escolhas dos autores dos LDHs na construção das narrativas dos temas atuais. Como organiza o conteúdo? O que privilegia em fontes imagéticas? A didatização dos textos são pontos importantes para a compreensão dos estudantes o que auxilia no entendimento da problematização que contribui para a construção da consciência histórica, relacionando o presente com o passado.

A aprendizagem histórica só tem sentido na vida dos alunos, quando conseguem pensar historicamente. Conhecer os fatos do passado sem problematização, é memorização, e não conhecimento (RÜSEN, 2010). O aluno deve ser provocado a relacionar o passado com seu presente, assim a história terá sentido para sua vivência. Os LDHs precisam repensar sua metodologia que visa apenas o caráter memorístico dos conteúdos. Devemos oportunizar aos alunos obras didáticas que desenvolvam a reflexão, competências e habilidades que despertem o pensar historicamente. Provavelmente cada professor de história, tem em sua mente o livro didático ideal. A busca por ele é importante para concretização de um ensino de História instigante, crítico e problematizador. Que seja uma ferramenta que contribua efetivamente no pensar historicamente do grande objetivo e potencial final: o aluno.

 

Referências biográficas

 

Sandra Gorete Gomes de Oliveira, mestranda em História pela UEM, no Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História – PROFHISTÓRIA, orientada pelo Profº Drº Angelo Aparecido Priori

 

Jeferson José Gevigier, mestrando em Ensino de História pela UEM, no Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História – ProfHistória, orientado pela Profª Drª Márcia Elisa Tetê Ramos

 

 

Referência bibliográficas

 

 

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Os livros e materiais didáticos de História. Ensino de História: fundamentos e métodos. 2º edição. Ed Cortez, 2008. p. 293 – 321.

 

MUNAKATA, Kazumi. Histórias que os livros didáticos contam, depois que acabou a ditadura no Brasil. In: FREITAS, Marcos Cezar de. (Org.). Historiografia Brasileira em Perspectiva. 6. Ed. 1º reimpressão – São Paulo: Contexto, 2007. p. 271 – 296.

 

PRIORI, Angelo; FELIPE, Delton Aparecido; PEREIRA, Márcio José (Org). Conversas sobre Direitos Humanos e práticas educativas no espaço escolar. Maringá: PR: Edições Diálogos, 2019.

 

SCHMIDT, Maria Auxiliadora; URBAN, Ana Claudia. Aprendizagem e formação da consciência histórica. Educar em Revista, n 60, Curitiba, Brasil. p. 17 – 42

 

RÜSEN, Jörn. Aprendizagem Histórica: Paradigmas e fundamentos. Curitiba: W & A Editores, 2012. pp. 10 – 47.

 

RÜSEN, Jörn. Como dar sentido ao passado: questões relevantes da meta-história. História da historiografia, n 02, 2009. p. 163 – 209.

 

RÜSEN, Jörn. O Livro Didático Ideal. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão Rezende (Org.). Jörn Rüsen e o ensino de História. Curitiba: Ed. UFPR, 2010, p. 109 – 127.

27 comentários:

  1. Excelente texto. Voces concordam que o livro didático ocupa um lugar central na escola pública brasileira?

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    1. Boa tarde, obrigado pela questão. O livro didático permanece uma ferramenta importante, mesmo com as diferentes formas de divulgação de informações, ainda mais por ser (o PNLD) um dos maiores programas de democratização da leitura, com avaliação criteriosa de professores universitários.

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    2. Olá. Agradecemos pelo questionamento. Concordamos! O LD ainda é o material didático mais usado nas escolas públicas brasileiras. Acreditamos que ele norteia o trabalho de muitos professores e a aprendizagem dos alunos. Mesmo atualmente estarmos num mundo voltado para recursos tecnológicos, o livro ainda se impõe como principal instrumento didático nas salas de aula. Também faz parte das políticas públicas do país. Nossa preocupação é com os conteúdos que os estudantes vão conhecer. Devemos superar a aprendizagem que privilegia apenas a memorização dos conteúdos, sem problematizações. A aprendizagem deve ser significa para os alunos, propiciando o pensar historicamente.

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  2. Primeiramente, parabéns pelo texto Sandra e Jeferson. Suas reflexões são de grande importância no cenário atual. Com base na fundamentação teórica do texto, o livro didático de História no cenário brasileiro ao meu ver é mecânico. Como fazer para que os conteúdos despertem a formação crítica dos estudantes e como o educador pode fazer essa ponte entre o livro e o despertar da autonomia e valorização da sua oralidade. Obrigado!

    Bartolomeu Lima Sá Júnior

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    1. Olá Bartolomeu! Agradecemos seu questionamento. Com certeza em muitas situações o uso do LD é mecânico. A figura do professor é essencial para que isso não aconteça. A mediação que o professor realiza com o livro e os alunos, é que pode superar esse mecanicismo, mesmo que o livro tenha abordagem baseado na memorização apenas, o professor pode transpor essa dificuldade e problematizar o conteúdo, levando os alunos a refletirem, relacionando o passado com o presente.

      SANDRA GORETE GOMES DE OLIVEIRA

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  3. Olá! Sandra e Jeferson, Parabéns pelas reflexões pontuais e acertadas! Pergunto no contexto do LDH e a formação da consciência histórica, como ficam ou deveriam ficar os conteúdos regionais? Abcs

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    1. 4- Obrigada pela pergunta professor Éverton. Os conteúdos regionais devem ser contemplados, sem dúvida. Porém, como os LDH são elaborados baseado no currículo em nível nacional, cada região deve adequar os conteúdos. Pela experiência em sala de aula, criamos nosso material didático. O livro didático é pouco utilizado. E como é uma história que podemos visitar museus, sítios arqueológicos, que está mais próximo do aluno, ele consegue relacionar mais facilmente esse passado com o presente, construindo assim uma consciência histórica.

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  4. Sandra e Jeferson, gostaria de, primeiramente, parabenizá-los pelo excelente texto, uma leitura bastante instigante e prazerosa. Em segundo lugar, penso que é necessário cuidado para não fazer parecer que Rüsen pensa que não há uma consciência histórica na sociedade. Ao contrário, parece-me que o que a história busca fazer é trazer uma nova forma de consciência histórica. A mais ultrapassada das narrativas tem consciência histórica, a diferença é que estamos tentando produzir novas formas de compreensão da história. Se desejarem discutir isso, permaneço à disposição.
    Em terceiro lugar, minha pergunta vem no sentido de indagar o outro lado da crítica, questão que costuma ser pouco abordada: quando afirma-se que "Os LDHs precisam repensar sua metodologia que visa apenas o caráter memorístico dos conteúdos", vocês afirmam que, em nenhum momento de todos os capítulos dos livros didáticos de História de "Alfredo Boulos e Ronaldo Vainfas et al" houve qualquer possibilidade de produção de consciência histórica para os alunos? Ou estariam dizendo que isso é o que foi encontrado a nível geral, mas nem todo o conteúdo de todos os livros didáticos analisados está baseado nessa narrativa memorialística? Ou, ainda, seria a afirmação de que os livros memorialística uma hipótese a ser colocada a teste futuramente na pesquisa?
    Agradeço desde já por proporcionar esta excelente leitura e pelas respostas! Atenciosamente, Rafael Fiedoruk Quinzani

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    1. 3- Olá Rafael. Agradecemos seu questionamento. São muitos detalhes, mas vamos lá. Acreditamos que Rüsen está preocupado com os LDH, porque o livro tem o papel de contribuir para a formação dessa consciência histórica nos estudantes, que recebe muitas informações sem base científica. Estamos pensando na qualidade dessa consciência histórica. O LD pode ou não fornecer argumentos para que os alunos possam problematizar sua realidade. Em nenhum momento Rüsen ou nós, consideramos que a sociedade não possui consciência histórica, mas pensando na qualidade que a consciência histórica é formada. Como somos professores do E.F e E.M, percebemos como é desafiante desenvolver em nossos alunos argumentos que reflitam sobre informações baseadas em opiniões.
      Parte dos LDH, ainda abordam conteúdos que levam os estudantes apenas memorizar. O professor deve estar atento a esse aspecto, senão reproduz essa prática, não contribuindo para efetiva aprendizagem histórica. Não analisamos toda coleção dos dois autores, o recorte foi feito no capítulo sobre a Ditadura Militar no Brasil 1964 – 1985. O que podemos perceber é que, numa obra é reforçada a memorização, enquanto na outra obra do E.M, demonstrou-se problematização do tema.

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  5. Excelentes reflexiones. Según su opinión ¿Cómo generar en la práctica conexiones orgánicas entre pasado, presente y futuro al momento de abordar historias controversiales o difíciles?¿Qué principios pedagógicos debe tener en cuenta el profesorado para viabilizar dichas conexiones en los ejercicios que desarrolla con el estudiantado?

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    1. Boa tarde Professor Nilson, muito obrigado pela questão.
      Sua pergunta aponta para um risco latente ao trabalharmos com relações passado, presente e futuro, o anacronismo. Por isso, acreditamos que ao desenvolver ferramentas de segunda ordem com os estudantes, principalmente a historicidade, permanências e rupturas, em contextos de identificação com a realidade deles, nós poderemos mostrar como eles podem perceber o passado no presente compreendendo seu significado historicizado, sem idealizações ou anacronismos.
      Com relação aos princípios pedagógicos que viabilizem exercícios cotidianos e que desenvolvam conexões práticas entre os diferentes tempos, nossa escolha metodológica, durante nossa pesquisa, demonstrou que o protagonismo de diferentes fontes históricas e sua análise pelo estudante são potentes ferramentas para esse trabalho. Aqui os LD entram como importantes instrumentos, visto que os autores supracitados apresentam um volume de fontes com pontos positivos, tanto qualitativa como quantitativamente.

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    2. Olá professor Nilson, sua questão é extremamente oportuna. As colocações do profº Jeferson são bastante esclarecedoras. Vou complementar! Ao de nossa pesquisa no ProfHistória, temo como objetivo elaborarmos um produto – Sequência Didática, isto é, atividades como trabalhar o tema com os alunos. A Sequência Didática foi pensada para proporcionar aos estudantes reflexões críticas sobre a Ditadura, que é um tema polêmico e difícil. As abordagens foram feitas através de problematizações, que instigue os estudantes a pensarem historicamente.

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  6. Olá Sandra e Jeferson, excelente trabalho, e uma temática bem polêmica de se trabalhar e que merece ser debatida. Acredito que cabe aos professores também instigar seus alunos quanto ao tema em sala de aula, sabemos que o livro didático é um material de apoio que acompanha os alunos por todo período escolar. Quanto a idealização de forma vocês colaborariam com os professores da rede de ensino para diaologarem temas como este que vces trouxeram a nós, para dentro da sala de aula ? Muito obrigada pela atenção.

    Rafaela lima de Oliveira

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    1. Boa noite Rafaela, obrigado pela questão.
      Nós acreditamos que o conhecimento é construído de forma coletiva a partir de pesquisas individuais que formam uma rede de conhecimento.
      Assim, nossa pesquisa é uma dentre várias no âmbito do ensino de história que podem ser divulgadas para que professores de todo o país possam conhecer com um pouco mais de critérios historiográficos, aspectos específicos de diferentes conteúdos substantivos, a ditadura militar entre eles.
      Em outras palavras, acreditamos que a divulgação científica e sistematizada das pesquisas do ProfHistória, por exemplo, seria uma forma interessante de colaborar com os professores das redes de ensino, dentro das salas de aula.

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    2. Olá Rafaela, se você tiver interesse, posso ti mandar a Sequência Didática. Deixa seu email.

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  7. Excelenete contribuição. Gostaria de saber se é possível pensar o livro didático em outro perspectiva que não somente como vilão como se paresentam em alguns trabalhos?

    Abraços
    Arnaldo Martin Szlachta Junior

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    1. 5- Olá Arnaldo! Obrigada pela sua pergunta. Acreditamos que o livro não seja o vilão da aprendizagem, ele é parte dela, pois temos o professor que faz a mediação, e verifica como o aluno assimilou o ensino. O que acontece muitas vezes, é que o livro didático apresenta conteúdos baseados apenas em abordagens factuais, que não problematiza os conteúdos, não relaciona os acontecimentos, dificultando o trabalho do professor com estudantes. Não adianta também um bom LD, se o professor não valorizar, fazendo pontes necessárias entre o livro e o aluno.

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  8. Primeiramente, queria parabenizar os escritores pelo excelente trabalho. O texto está muito bem desenvolvido, e vocês trouxeram um tema que é bastante sensível de se trabalhar, por que vocês foram ao confronto do maior objeto de trabalho de centenas de professores, e é muito bom que ocorra pensamento como esses de vocês, de problematizar. Mais uma vez parabéns por tratarem dessa questão.

    Os livros didáticos tem um poder de construir narrativas, e também é um material popular e acessível principalmente para estudantes de escola pública, muita das vezes é a primeira fonte de informação que os estudantes tem contato.

    Muita das vezes essa narrativa é construída não para emancipar os estudantes e sim para os ""alienar"" e tratar de um tema com pouca relevância, deixando muitos assuntos históricos apagados.

    A minha dúvida é: como nós professores podemos driblar essas dificuldades encontradas, como podemos promover uma educação emancipadora que vá para além dos livros didáticos ?

    Samara Alves de Oliveira

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    1. Boa noite Samara, obrigado pela questão.
      Muito instigante sua pergunta e vemos diversos meandros para um esboço de resposta.
      Pensando no livro como uma ferramenta de alienação, o primeiro passo seria uma postura de todos nós que mobilizasse um grande número de professores de história quando da seleção das obras do PNLD.
      Por outro lado, por mais que gostemos de uma obra selecionada, há que se considerar diferentes concepções e diferentes linhas historiográficas entre o autor do livro didático e o professor em sala de aula. Portanto, neste ponto, é interessante que cada um de nós se aproprie de mais e mais materiais, principalmente pesquisas acadêmicas, e diferentes ferramentas, inclusive online, utilizando o livro didático, portanto, como uma importante ferramenta, porém não a única.

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    2. Olá Samara. Agradecemos sua pergunta. Acreditamos que devemos começar pela problematização dos conteúdos. Os alunos não são meros depósitos de informações, devemos levá-los a pensar, construir hipóteses, contribuindo para ser protagonista de seu conhecimento.
      Obs: se interessar, posso mandar a Sequência Didática. Deixa seu email.

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  9. Parabéns pelo excelente texto, profundo e denso. O texto tece considerações importantes sobre o Livro Didático de História. As limitações não problematizadoras em relação aos LDH ao abordarem a temática Ditadura Militar (1954-1985) encontra-se em maior grau na didatização do texto ou nas imagens???? Jessé Gonçalves Cutrim

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    1. 6- Olá Jessé! Nos LD que analisamos podem acontecer as duas hipóteses. Em um, o autor usa imagens que ressalta a ditadura sem conflitos, não problematiza. Enquanto na outra, o autor já abre o capítulo com a foto de um Monumento sobre as vítimas de tortura, numa Praça em Recife. Então, ele já começa problematizando o tema, chamando a atenção do aluno para várias reflexões. O conteúdo desse livro é mais denso.

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  10. Excelente texto. Denso e profundo apesar de curto. Rico em aportes teóricos sobre o Livro Didático de História. Sobre as considerações do LDH em relação a temática da Ditatura Militar (1965-1985) QUAIS LIMITAÇÕES NÃO PROBLEMATIZADORES SE SOBRESSAEM? NAS FONTES IMAGÉTICAS? OU NA DIDATIZAÇÃO SIMPLISTA? Jessé Gonçalves Cutrim

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    1. 7- Olá novamente Jessé! Obrigada pelo questionamento. Como citamos anteriormente, as obras fazem diferentes abordagens. Numa o autor é mais problematizador, tanto no texto como na escolha das imagens. Já a outra obra, a didatização é boa, mas não problematiza. As fontes imagéticas são fotos dos presidentes generais, tem apenas uma foto do Manoel Fiel Filho, que foi morto sob tortura, sem problematizar nenhum aspecto da ditadura.

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