Lucilvana Ferreira Barros e Roberg Januário dos Santos

O ENSINO E A PESQUISA DA HISTÓRIA REGIONAL NA PÓS-GRADUAÇÃO BRASILEIRA: NOTAS PARA UM DEBATE


Introdução

O teórico cultural Stuart Hall considera que a construção das nações provocou a subordinação das diferenças em nome do que foi chamado de unidade nacional. Para Hall (2006, p. 49), “as diferenças regionais e étnicas foram gradualmente sendo colocadas, de forma subordinada, sob aquilo Gellner chama de “teto político” do estado-nação [...]”, logo o lugar das diferenças e identidades locais e regionais perderam espaço para as culturais nacionais, pois foi recorrente o estado-nação ter buscado operacionalizar um sistema de representação cultural de seu povo. O estudioso utiliza como exemplo o povo britânico, que foi formado a partir de uma série de conquistas que subjugavam diversos povos, como os escoceses, galeses e irlandeses, operando uma hegemonia efetiva da cultura “inglesa” sobre outras culturas regionais.

A discussão posta acima por Hall é de fundamental importância para a compreensão deste texto, pois a tese do autor é a de que as antigas identidades fundadas na estabilidade e na unidade estão perdendo espaço, nos últimos tempos, para novas identidades, uma evidência clara da fragmentação dos tempos, de acordo com o autor. Assim, trazemos essa discussão para introduzir o tema deste texto acerca do sobrepujamento da História Nacional sobre a História Regional na Pós-Graduação em História no Brasil. O objetivo deste trabalho reside justamente em analisar, no quadro geral dos programas acadêmicos de Pós-Graduação em História no Brasil, o lugar reservado à História Regional. A hipótese a ser seguida aqui é a que considera o lugar inferior da História Regional na Pós-Graduação brasileira, derivado da histórica assimetria entre o Sul/Sudeste e o Norte/Nordeste do país, ou seja, o soerguimento do Sudeste como nação no campo historiográfico e no ensino também contribuiu para elevá-lo a esta condição, criando as circunstâncias para o restante do país ser tido como região. Logo, a ideia de centro e periferia foram postas.

Não podemos falar em regional sem antes compreendermos o conceito de região, para tanto, recorremos a Albuquerque Júnior (2008, p. 62) ao postular que:

“As regiões são invenções humanas visando ordenar seja a natureza, quando veem e definem regiões naturais, como faziam os geógrafos franceses da primeira metade do século XIX, seja a sociedade, quando veem regiões econômicas, regiões político-administrativas, regiões jurídicas, regiões morais ou regiões nosográficas. As regiões nascem das práticas de significação e de ordenamento do mundo feito pelos homens”.

 

A região, conforme Assunção Barros (2017, pp. 27-28), é “uma categoria através da qual se pode pensar uma diferenciação interna do país [...]”, categoria esta que ganhou lastro com o desenvolvimento da abordagem historiográfica da História Regional. Para Barros, o regional pode ser definido como um lugar conexo a um sistema, no entanto, detentor de sua própria dinâmica interna. Este âmbito regional geralmente encontra-se ligado a outras espacialidades, sejam elas mais restritas ou mais amplas.

 

Colocando o problema

 

O problema a ser discutido aqui é uma inquietação colocada em outras discussões correlatas, a exemplo do que falou a historiadora Maria de Lourdes Janotti, em clássico texto sobre a Historiografia, uma questão regional? Janotti (1990, pp. 85-86) questiona a projeção de São Paulo como sinônimo de nação, pontuando o processo de construção nacional mediante a produção colonial, neocolonial e capitalista, ocasionando, assim, a centralização em alguns espaços dinâmicos do país, “[...] atribuindo o termo regiões aos espaços geoeconômicos que não participavam de sua prosperidade. Portanto, o regional passou a ser sinônimo de marginalidade e/ou de decadência”. Janotti ainda observa que a hegemonia dos espaços dinâmicos da economia brasileira sobre as demais áreas manifestou-se também na imposição da narrativa histórica, identificando esses espaços dinâmicos com a própria história do Brasil, consequentemente a história contada a partir dos ciclos da cana-de-açúcar, da mineração e do café tornou-se um tipo de representação histórica reproduzida. Nesse patamar, a história de São Paulo durante a Primeira República, época áurea da produção de café e do domínio político das oligarquias paulistas, foi alçada à condição de História do Brasil. Nos períodos subsequentes, mesmo com outros questionamentos e variantes, São Paulo permaneceu no centro das atenções, sobretudo, em função da burguesia industrial e financeira que, conforme Janotti, possuía interesses e pretensões nacionais que ultrapassavam os limites geográficos da elite agrária.

Luis Fernando Cerri, na obra A Ideologia da Paulistanidade (1997), estuda as produções ideológicas sobre o tema do regionalismo paulista elaboradas por intelectuais de São Paulo, ocasião em que demonstra como tais produções foram divulgadas em vários âmbitos, inclusive, o ambiente escolar. Ao incursionar por certa produção regional, Cerri acaba por mostrar o quanto a perspectiva regional foi transformada em nacional pelos paulistas, como exemplifica com a criação do Museu Paulista, em 1895, que, ao lançar mão de componentes do passado ligados ao bandeirantismo e à Proclamação da Independência, projetava, na História do Brasil, a atuação dos paulistas. Os intelectuais responsáveis pela ideologia da paulistanidade foram os mesmos que formaram gerações de professores de História, ponto pelo qual Cerri considera que a bibliografia desses professores, bem como os materiais didáticos utilizados, continham a influência dos citados intelectuais.

A construção da assimetria regional brasileira, do ponto vista do discurso – depois espraiado para a vida prática das populações e manifestado em forma de preconceitos, estereótipos e interpretações enviesadas da realidade sociocultural –, foi proveniente de várias esferas, inclusive, das políticas públicas, como foi o caso, por exemplo, da política de imigração implementada desde o Segundo Império, chegando ao Período Republicano. Sobre este último período, Seyferth, a partir de um olhar antropológico, analisa que, diante da questão imigratória brasileira, ocorreu a produção da ideia de identidade nacional em detrimento das esferas regionais. Para o autor, foi incorporado à discussão sobre a distribuição de imigrantes estrangeiros no Brasil o tema das diferenças regionais, pautado a partir do tema racial e climático. Assim, “as distinções regionais, nesse contexto opõem o Sul branqueado pela imigração (São Paulo inclusive), capitalista, ao Norte atrasado, com alto percentual de população mestiça e negra classificada como “inferior”. (SEYFERTH. IN: ZARUR, 2000, p. 103). A conclusão do debate acima caminha para pensarmos que a ideia de nação brasileira, conforme o debate acima sobre a imigração, era projetada a partir do Sul do país, o que revela um projeto excludente das demais regiões, evidenciando os problemas da ideia de identidade nacional.

 

A História Regional na Pós-Graduação brasileira

 

Neste texto, consideramos a importância da abordagem da História Regional para a formação histórica nos mais variados níveis de ensino, pois os processos e acontecimentos históricos das várias regiões do Brasil tendem a melhor explicar a própria História Nacional, na medida em que a narrativa se estrutura por meio de singularidades, diferenças, pluralidades, sujeitos e fatos de diversas partes e lugares do país na circulação e conexão com outras instâncias e espacialidades.

 

A macroabordagem da história da nação homogeneíza e eclipsa as questões regionais, deixando de fora da “grande história” situações, grupos e sujeitos também fazedores de história. É imprescindível ter claro que o historiador e professor de História devem escrever e abordar a História Regional longe dos projetos das elites e dos poderes, que pretendem utilizar o âmbito regional para reforçarem seus projetos e postulados. Albuquerque Júnior alerta que “o grande desafio que se coloca para a historiografia que se diz regional é o de não se constituir em mais um saber a repor acriticamente a pretensa identidade de uma dada região” (2008, p. 59).

 

O ensino de História Regional ainda não está claro, especialmente na Educação Superior, visto a histórica preocupação e afastamento desse campo por parte de muitos historiadores e a sua pouca presença nos currículos. No entanto, alguns estudiosos lançaram suas reflexões sobre o estudo de História Regional, como foi o caso de André Roberto Machado, que escreveu um excelente texto com o título Entre o nacional e o regional: Uma reflexão sobre a importância dos recortes espaciais na pesquisa e no ensino da História (2017), buscando mostrar o potencial de um estudo mais atento sobre as províncias em detrimento dos modelos explicativos da História do Brasil no século XIX. Machado (2007, pp. 307-308) defende que os estudos de História Regional possam alargar a compreensão dos contextos mais amplos nos quais estiveram inseridos, encerrando o texto com a seguinte questão:

 

“Em nossas salas de aula ou em nossas pesquisas não valerá mais a pena trilhar esse novo caminho do que repetir os velhos modelos pensados a partir do Rio de Janeiro?” (Machado (2017, p. 310).

 

Pouco se tem discutido sobre a História Regional na Pós-Graduação em História no Brasil, pois provavelmente existe uma demanda dos órgãos avaliadores e de fomento da Pós-Graduação em relação à nacionalização e à internacionalização dos programas. Como já citamos acima, muitos historiadores consideram que trabalhar com a História Regional é algo menor, quando muitas vezes, na verdade, o que realmente fazem é a própria História Regional, obviamente bem articulada e pensada. Por outro lado, uma histórica clivagem entre os programas do Sul e do restante do país pode iluminar o lugar da História Regional nesse cenário, daí um depoimento de um coordenador da área de História na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pode melhor esclarecer a questão:

 

“Um dos problemas atuais da nossa área diz respeito à proliferação de cursos de mestrado nos últimos dez, 15 anos. Na sua origem mais remota, nos anos 1970-1980, a área se configurou a partir de uma espécie de reserva de mercado prejudicial ao campo da história, porque reservou para o eixo Rio-São Paulo a incumbência de pesquisar história geral – seja lá o que for essa quimera – reservando aos programas criados fora desse eixo a incumbência de dedicar-se à história local” (Fico (2015, p. 21).

 

Esta percepção ainda é possível ser observada, pois é notório, em Programas de Pós-Graduação em História no Sudeste do país, a não existência de áreas de concentração ligadas à perspectiva regional, bem como a pouca presença de disciplinas sobre a história dos estados e região. Consultando três Programas de Pós-Graduação em História, respectivamente das universidades Federal de Minas Gerais – UFMG; Federal Fluminense – UFF, e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, não localizamos nenhuma disciplina de cunho estadual ou regional. Por outro lado, encontramos disciplinas com esse perfil nas universidades do Centro Oeste, Norte e Nordeste. E citamos como exemplo a disciplina oferecida pela Estadual de Goiás, campus Morrinho: Arquivos e fontes para a história de Goiás; pela Federal do Pará: Sociobiodiversidade, Trabalhos e Trabalhadores/as na Amazônia: reflexões, e pela Federal do Pernambuco – UFPE: História do Açúcar.

 

No que diz respeito à área de História, a mesma conta com um total de 82 programas de Pós-Graduação no Brasil, sendo 26 programas somente de mestrado acadêmico, 09 programas de mestrado profissional, 44 programas de mestrado e doutorado juntos e 03 de mestrado e doutorado profissional. Em termos de cursos de Pós-Graduação, o país registra o total de 129, sendo 70 cursos de mestrado acadêmico, 44 cursos de doutorado acadêmico, 12 cursos de mestrado profissional e 03 de doutorado profissional. Nosso foco aqui são os programas acadêmicos e, diante das proporções de tamanho deste ensaio, nos deteremos a discutir a História Regional nas áreas de concentração da Pós-Graduação em História. A área de concentração de um programa representa, de fato, qual a grande visão epistemológica e prática que embasa os trabalhos de docentes e discentes integrantes de um programa, ancorando linhas de pesquisas conexas que possam demonstrar a densidade teórico-conceitual da área do programa, bem como a compatibilidade entre elas e os demais projetos de pesquisa.

 

A maioria absoluta dos programas de Pós-Graduação em História no Brasil possui suas áreas de concentração com temáticas amplas que contemplam, em grande medida, a História Social, sendo que outra grande parte se concentra a partir dos temas: sociedade, poder, política e cultura, ou ainda temas mais específicos, como História Comparada, História e Fronteiras, História e Historiografia, História e Identidades, entre outros. Destacamos que vários programas das regiões Sul e Centro Oeste possuem suas áreas de concentração ligados ao tema das fronteiras.

 

Em pesquisa que realizamos junto à Plataforma Sucupira (ferramenta que coleta informações e funciona como base de referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação), notamos que, de um total de 70 programas acadêmicos de mestrado e doutorado em História, basicamente 07 destes possuem a área de concentração diretamente correlacionada à História Regional ou que se relaciona à uma região específica. Vejamos a tabela a seguir sobre o assunto:

 

 


Como se pode observar na tabela 01, cinco programas de Pós-Graduação em História expressam diretamente em suas áreas de concentração a História e Região ou a História Regional, notadamente sediados nas universidades: Universidade de Passo Fundo, Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Universidade do Estado da Bahia (campus de Santo Antônio de Jesus – BA). Dos cinco programas, 02 programas localizam-se na região Sul, 02 programas na região Nordeste e 01 programa no Centro Oeste. Portanto, nenhum programa do Sudeste do país. Os outros dois programas com área de concentração regional estão situados no Norte do Brasil, no Pará, com áreas de concentração em História da Amazônia, respectivamente nas universidades Federal do Pará - UFPA e Federal do Sul e Sudeste do Pará – Unifesspa.

 

Podemos observar que, no âmbito dos sete Programas de Pós-Graduação em História que expressam em suas áreas de concentração a História e Região, o mais antigo encontra-se sediado na Universidade de Passo Fundo, desde 1999, e o mais novo está hospedado na Federal do Sul e Sudeste do Pará – Unifesspa, em funcionamento desde 2019. Os demais programas foram criados entre 2009 e 2013 na esteira do processo de ampliação da Pós-Graduação no Brasil. O programa mais bem avaliado, conforme avaliação da CAPES, é o Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Pará, com nota 5, os demais estão com notas 3 e 4, segundo a última avaliação da área, realizada em 2017.

 

A tabela 02 apresenta a situação de programas que possuíam a área de concentração concatenada à História e Região, mas alteraram para outra área, como podemos ver nos programas de Pós-Graduação em História em nível acadêmico da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais e na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, em Pernambuco. Talvez as alterações tenham decorrido em função da demanda dos órgãos de avaliação quanto à necessidade de nacionalização e internacionalização dos programas. No caso do programa da UFPE, o último relatório de avaliação do programa pela CAPES, em 2017, no item “proposta do programa”, os avaliadores assim se pronunciaram: “a área de concentração foi alterada em julho de 2016 e passou a intitular-se “Sociedade, culturas e poderes”. A razão da mudança é vaga e não há evidência de que as mudanças foram consolidadas”. Ou seja, o programa já possuía uma trajetória consolidada, com destacada notoriedade de suas produções, provavelmente a transição de área não tenha sido frutífera frente ao perfil ao qual o programa foi construído.

 

Muitas vezes as mudanças nas áreas de concentração sofisticam os Programas de Pós-Graduação, mas também podem desalinhar trajetórias já consolidadas. A preocupação com o localismo, possivelmente derivado da História Regional, embora se diferencie da mesma, deve ser relativizada, pois os estudos regionais, uma vez bem elaborados, podem ser perfeitamente conectados à História do Brasil e do mundo. Vejamos a possibilidade de um estudo sobre as sociedades indígenas amazônicas no século XIX dialogar com o cenário brasileiro a partir das produções de cientistas vinculados ao Museu Nacional e ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, que estiveram na região e publicaram seus relatos, bem como a percepção sobre estas sociedades mediante vários viajantes estrangeiros que incursionaram pela região.

 

Considerações finais

 

Compreendemos a importância da nacionalização e internacionalização dos Programas de Pós-Graduação em História, todavia, também acreditamos no potencial de contribuição de uma História Regional renovada, diferenciada dos localismos e das estratégias de poderes que geralmente capturam a sociedade do entorno por meio do discurso regionalista. É possível se fazer História Regional conectada e articulada com outros contextos e espacialidades, como é possível perceber em várias produções oriundas do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da UFPA que dialogam diretamente com a perspectiva de uma história global.

 

Acreditamos em uma História Regional questionadora, que levante problemas do espaço vivido e que desconstrua as hierarquias regionais e as relações de subordinação entre os espaços. No ensino de História, que possa existir um distanciamento do tradicional discurso regional das elites que confundem a história do lugar e da região com suas próprias histórias e que os professores desnaturalizem as formas de dominação advindas do regional, além de combaterem todas as maneiras de construção de estereótipos presentes na narrativa da história mais próxima.

 

As pretensões de uma dada área geográfica do país em ser a própria nação, o temor e preconceito de alguns historiadores, além das demandas avaliativas e de fomento à pesquisa, contribuem para que a História Regional possua pouco espaço na Pós-Graduação, muito em função de ser tida como um tipo de “história menor”. Esta situação tem alimentado uma visão equivocada no Brasil de que existe um centro e uma periferia. Todas as regiões do país compõem o Brasil.

 

Referências biográficas:

 

Mestre e Doutorando Roberg Januário dos Santos, professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.

Mestra e Doutoranda Lucilvana Ferreira Barros, professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.

 

Referências bibliográficas

 

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. O objeto em fuga: algumas reflexões em torno do conceito de região. Fronteiras, Dourados, MS, v. 10, n. 17, p. 55-67, jan./jun. 2008.

BARROS, José D’ Assunção. História, Espaço, Geografia: diálogos interdisciplinares. Petrópolis: Vozes, 2017.

CERRI, Luis Fernando. A Ideologia da Paulistanidade. São Paulo: W. Roth Central, 1997.

COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR. CAPES. Coleta CAPES/Avaliação Quadrienal. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/listaPrograma.jsf. Acesso em: 05 abr. 2021.

FICO, Carlos. A Pós-Graduação em História: tendências e perspectivas da área. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.22, n.3, jul. - set. 2015, p.1019-1031.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade/ tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro-11. Ed.- Rio de janeiro: DP&A, 2006.

JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Historiografia: uma questão regional? In. SILVA, Marcos Antônio da (Coord.). República em Migalhas: História Regional e Local. Editora Marco Zero, 1990, p. 81-101.

MACHADO, André Roberto. Entre o nacional e o regional: Uma reflexão sobre a importância dos recortes espaciais na pesquisa e no ensino da História. Anos 90, Porto Alegre, v. 24, n. 45, p. 293-319, jul. 2017.

8 comentários:

  1. Primeiramente gostaria de parabenizar pelo trabalho que trata de um tema que eu considero caro para mim, pois, volta e meia torna-se alvo das minhas análises nos meus ciclos pessoais. Desde a graduação já enxergava o interesse dos meus colegas em produzirem em seus trabalhos monográficos assuntos que englobava uma abordagem mais próxima de uma História Geral. Esses estudos na sua maioria traziam a cidade de São Paulo e Rio de Janeiro como cenários, para estudar música, literatura, política e processos de transformação urbana e outros tantos temas, que poderiam ser estudados tomando como recortes espaciais as suas referidas cidades. Todavia, as mesmas eram deixadas de lado em detrimento das investigações desses outros espaços que pareciam mais atrativos para esses sujeitos. Em alguns casos esses trabalhos se tornavam embriões para projetos visando o acesso a programas de pós-graduação em História, e alguns acabavam sendo aceites pelas referidas bancas. Isso despertava em mim um certo questionamento, haja vista, que eu entendia que os programas que surgiram principalmente no século XXI na região que eu faço parte, nutria o desejo de difundir mais produções historiográficas relacionadas a região que o programa estava situado. É por intermédio dessas considerações que eu levanto a minha questão, que dialoga com um ponto que foi discutido pelo trabalho de vocês, que no caso são a formação de linhas de concentração genéricas que incentivam a produção de trabalhos gerais em detrimento de assuntos de cunho regionais. Na opinião de vocês, este não seria um problema que surge na proposta curricular dos programas de graduação em História, que deixam de ofertar desde o início da graduação disciplinas sobre o estado ou região onde estão alicerçados que permitiriam que os estudantes construíssem o interesse desde o início em produzir pesquisas sobre os locais onde residem? E que no final este problema relacionado a graduação acaba respigando nos referentes programas de pós em História, em suas adaptações de linhas para receber estes discentes?

    Ronyone de Araújo Jeronimo

    ResponderExcluir
  2. Olá, Ronyone de Araújo Jeronimo,
    Agradecemos a sua participação. Sua questão é pertinente, pois, de fato a pouca oferta de disciplinas que abordem o local e o regional nos cursos de graduação influenciam sim para que muitos estudantes se distanciem dessas abordagens na pós-graduação. Há uma preocupação maior com disciplinas que tratem da história dos Estados e das regiões no Norte e Nordeste do Brasil, no entanto, o mesmo não se observa no Sudeste. Os componentes curriculares que abordam a história mais próxima do público discente são importantes por construírem pontes de interesse entre o regional e o nacional ou o global. Além do que, os problemas históricos mais próximos tendem a ser melhor conhecidos quando tratamos também da história das regiões.
    Roberg
    Lucilvana

    ResponderExcluir
  3. Obrigado pelas reflexões! Penso que a dinâmica dos estudos regionais, a margem das crônicas e discussões mais hegemônicas também se reproduz nos debates e perspectivas educacionais! Isso posto, gera um prejuízo maior a educação, pois sem pesquisas regionais as relações de ensino com o cotidiano mais próximo perdem folego e importância! Algo importante para a educação histórica! Parece que as crianças sempre aprendem algo distante delas! Como resolvemos isso? Abcs

    ResponderExcluir
  4. Caro Everton Crema, obrigado pela participação.
    Partindo do pressuposto que o processo de ensino-aprendizagem do saber histórico é encaminhado, grande parte, por meio de uma cadeia normatizadora do conhecimento, sustentada pelo empirismo de regras escolares e objetividade dos materiais escolares, principalmente dos livros didáticos, estes que geralmente totalizam conteúdos e, no caso da História, se pautam na história geral e do Brasil, propomos na Unifesspa, onde possuímos vinculo profissional, um projeto com o objetivo de inserir a história local e regional nas aulas de História do ensino básico. O projeto que foi proposto buscou se desvincular da perspectiva de um ensino pronto, acabado e localizador, pretendendo atentar para a riqueza do trabalho docente articulado com a pesquisa, uma vez que imbuídos de uma condição investigativa do mundo e elaboradores de conceitos no que diz respeito aos objetos do conhecimento histórico, docentes e estudantes possam alavancar o diálogo entre o presente e o passado, de modo a propiciar um processo de ensino-aprendizagem ancorado em problemáticas que façam sentido não só para o saber escolar transposto das universidades – tido como saber competente – mas que faça sentido para o contexto em que se inserem os agentes envolvidos no cotidiano da sala de aula, já que o conhecimento escolar é algo também produzido conforme cada contexto e as especificidades do lugar. o projeto propôs a construção de vínculos, elaboração de diálogos entre estas abordagens e os conteúdos de história geral e do Brasil já trabalhados no contexto escolar com história mais próxima. Mencionamos como fruto desse projeto o livro Amazônia oriental Brasileira: história, migração e região (2019). A quem interessa possa: https://www.editoracrv.com.br/produtos/detalhes/33688-amazonia-oriental-brasileirabr-historia-migracao-e-regiao

    ResponderExcluir
  5. Olá professor Roberg e professora Lucilvana, boa noite! O texto de vocês é muito pertinente tendo em vista a importância da temática que contextualiza o lugar de vivências de cada indivíduo. A minha fala parte como professora do ensino básico que busca produções acerca da história regional. Os materiais didáticos abordam conteúdos distante da realidade do campo. Quais caminhos percorrer para contribuir no desenvolvimento da história regional?

    ResponderExcluir
  6. Cara Claudia Vanessa, obrigado pela participação. Compreendemos o desafio para professores e alunos no trabalho com a História Regional e Local, pois o ensino de história no Brasil ainda segue, de certa forma, os pressupostos normativos do conhecimento que emanam de manuais escolares como ponto chave do processo de ensino-aprendizagem. Uma proposta interessante é iniciar as discussões sobre a História regional e local na escola a partir do diálogo, demonstrando para os estudantes que eles e seus familiares fazem parte da história do município e região, e que os mesmos são parte importantes no processo de elaboração destes espaços. A construção de vínculos, elaboração de diálogos entre estas abordagens e os conteúdos de história geral e do Brasil já trabalhados no contexto escolar. A junção entre ensino, pesquisa e extensão, associado a busca de documentos (escritos, orais, audiovisuais, etc.) que se remetam a História Local e Regional podem propiciar uma boa aproximação com a realidade mais próxima.

    Atenciosamente,
    Lucilvana Barros
    Roberg Santos

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.