Isabela da Silva Ferreira e Cíntia Venâncio

 A TERCEIRA VERSÃO DA BNCC: DISPUTAS PARA UM CURRÍCULO EM HISTÓRIA

 


 

Nos idos de setembro de 2015, o campo da História e demais campos de pesquisa que se debruçam sobre o processo de ensino-aprendizagem na educação básica, vivenciaram debates importantes sobre a construção de uma proposta de Base Nacional Comum Curricular. Três proposições foram elaboradas entre a referida data, quando a primeira versão foi disponibilizada para consulta pública, até 2018, quando enfim a terceira proposta foi homologada pelo então ministro da Educação, Rossieli Soares. Neste processo, pesquisadores passaram a investigar o histórico de construção destas versões para a compreensão das disputas que envolveram o seu processo de construção e que, consequentemente, apontam que perspectivas de ensino de história estão sendo propostas para as escolas brasileiras.

 

É nesse contexto que este estudo se insere. Entre os anos de 2018 e 2019, desenvolvemos esta pesquisa de Iniciação Científica intitulada “A terceira versão da BNCC: as disputas para um currículo em História, no grupo de pesquisa Espaços, Poder e Práticas Sociais - História e Espaços de Ensino da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob orientação da Profa. Dra. Margarida Maria Dias de Oliveira. Neste sentido, temos como escopo deste artigo, divulgar os resultados desta pesquisa que teve como objetivo compreender como as disputas em torno da primeira e segunda versão se efetivaram e se consolidaram na terceira e última versão da BNCC.

 

Para a escrita deste artigo, partimos da premissa de que tudo que se refere ao ensino de História deve ser objeto de preocupação dos profissionais de História. Afinal, a orientação no tempo e a compreensão da sua própria realidade são carências que embasam o trabalho do historiador tanto no desenvolvimento de pesquisas quanto em espaços de ensino-aprendizagem. Sobre isso, afirma Antoine Prost:

 

“Qualquer questão histórica é, de fato, formulada [...] em uma sociedade. Mesmo que pretenda voltar-lhe as costas e atribuir à história uma função de puro conhecimento desinteressado, ele não consegue abstrair-se de seu tempo. Todas as questões são formuladas a partir de determinado lugar” (PROST, 1996).

 

À vista disso, podemos entender que este determinado lugar do qual o profissional de História deve partir está assentado na prática social. As demandas apresentadas pela sociedade são o que deve nortear o ofício do historiador, e, no contexto atual, compreender a que se propõe a disciplina de História na nova versão da BNCC é uma necessidade verificada por se tratar de uma questão relacionada ao debate sobre o currículo da educação básica, e, consequentemente, a formação dos sujeitos em sociedade.

 

Entendemos aqui, Currículo como o que se ensina com objetivo de constituir sujeitos históricos e forjar identidades. Como aponta o historiador Itamar Freitas: “quem pensa currículo, seja ele de curso, série, ano, disciplina etc, baseia-se sempre em duas questões: o que deve ser ensinado? Que tipo de sujeito deve ser formado?” (FREITAS, 2010). A partir dessas questões, avalia-se como é através dos currículos que ocorre a defesa dos projetos de sociedade que deverão ser construídos no espaço institucional em que formamos cidadãos: a escola. É partindo dessa análise que apontamos a necessidade de averiguar qual História está sendo proposta e, consequentemente, qual o perfil de cidadão que o documento da terceira versão deseja formar para a sociedade.

 

Para análise do documento, selecionamos o texto referente à disciplina de História na etapa do Ensino Fundamental, tendo em vista que a etapa referente ao Ensino Médio se dá a partir de uma proposta interdisciplinar das Ciências Humanas e Sociais aplicadas, não delimitando especificamente a disciplina histórica, objeto este de análise nesta pesquisa. Nesse sentido, nos debruçamos para analisar o currículo de História proposto para o Ensino Fundamental a partir da metodologia de pesquisa da Análise de Conteúdo proposta por Laurence Bardin. A referida metodologia se caracteriza: “como um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens” (BARDIN, 1977). Nessa direção, quantificamos informações importantes presentes na disciplina de História na BNCC e construímos inferências sobre os dados sistematizados de forma qualitativa.

 

A partir disso, nossa análise se centrou em investigar as categorias de Tempo e Espaço atrelados aos conteúdos substantivos propostos pelo documento. Tais conteúdos são entendidos como: “termos que medeiam a compreensão do mundo no tempo (...) servem para o entendimento de ações comuns a todas as sociedades. São estruturais, mais complexos e abstratos: comunicação, poder, governo, agricultura” (FREITAS, 2010). Nesse sentido, buscamos analisar em que contextos históricos, que tempos e espaços, são privilegiados no ensino dos conteúdos substantivos.

 

Partindo-se do estudo desses elementos presentes no documento, construímos categorias de análise para a quantificação de quantas vezes os tempos e espaços se repetiam nessa versão. Utilizamos tabelas e gráficos como ferramentas para representar o levantamento dos dados quantitativos que havíamos feito. Como esta pesquisa tinha como objetivo compreender como as disputas em torno do currículo de História presentes nas primeiras versões da BNCC se efetivaram na terceira e última versão, necessitamos fazer uma análise comparativa com os dados que foram levantados nas pesquisas precedentes a esta e os novos resultados obtidos acerca da versão homologada.

 

O processo de elaboração da primeira versão do documento, colocada para consulta em 2015, contou com uma equipe constituída por 116 pessoas, entre elas coordenadores, professores pesquisadores do campo curricular e professores da educação básica. Os Profs. Drs. Margarida Oliveira e Itamar Freitas, que participaram da produção dessa versão do documento sistematizaram como foi fazer da experiência e apontaram qual seria o objetivo do ensino de história nesta primeira proposta elaborada. Para estes: “O ensino-aprendizagem de qualquer conteúdo precisa fazer sentido para o aluno, tem que significar algo que ele conecte com sua vida cotidiana ou que, mesmo reconhecendo sua aplicabilidade teórica, reconheça sua utilidade na vida prática” (FREITAS, OLIVEIRA, 2018).

 

A partir da fala dos professores, podemos inferir como nesta versão da base, se tinha como princípio um ensino de história que possuísse uma função social na vida do aluno, este, brasileiro, em idade escolar, que enfrenta dilemas cotidianos relacionados ao contexto em que se está inserido. Silva (2018a) analisou as categorias de tempo e espaço na primeira versão do documento, no qual foi possível observar a preocupação do currículo estar mais próximo da realidade e das demandas apresentadas pelos alunos. É nessa perspectiva que o Brasil ganha o maior destaque espacial (42%), sendo seguido pela Europa (19%) e América (14%). Na seleção temporal o mesmo ocorre, Brasil Império é o conteúdo mais abordado (20%), seguido de Brasil República e Brasil Contemporâneo (ambos 10%), além de Idade Contemporânea (10%).


Esse retrato não permanece o mesmo na segunda versão do documento. Segundo Silva (2018b), nesta segunda versão apresentada da BNCC, a Europa ganha destaque no recorte espacial do currículo (32%), enquanto que o Brasil cai para 21%. A Idade Contemporânea agora é o tempo mais destacado (18%) ao lado de outros conteúdos tradicionalmente relacionados à história europeia, como Idade Moderna (13%) e Idade Antiga (12%) que juntos formam mais de 40% do conteúdo. Mesmo a BNCC prescrevendo um currículo para estudantes brasileiros, o Brasil só terá sua maior temporalidade com o recorte do Brasil Império, sendo 8% da proposta. A partir destes dados, é possível inferir como a segunda versão do documento passou a prezar uma tradição escolar já consolidada na educação básica do ensino de história baseado no modelo do quadripartidarismo francês.

 

Já a terceira versão da BNCC, objeto central da nossa pesquisa, apresenta no seu corpo de texto o seguinte objetivo para o currículo de História:

 

“Nesse contexto, um dos importantes objetivos de História no Ensino Fundamental é estimular a autonomia de pensamento e a capacidade de reconhecer que os indivíduos agem de acordo com a época e o lugar nos quais vivem, de forma a preservar ou transformar seus hábitos e condutas. A percepção de que existe uma grande diversidade de sujeitos e histórias estimula o pensamento crítico, a autonomia e a formação para a cidadania” (BNCC, 2018).

 

A partir da leitura deste trecho, é possível perceber uma preocupação em o ensino de história conseguir estabelecer relações de alteridade entre sujeitos e sociedades de diferentes tempos e espaços. Nessa leitura, o processo de ensino-aprendizagem em História deve formar cidadãos que compreendam a diversidade que permeia a construção da história e do mundo e as implicações que isso representa: o respeito ao outro, as diferentes formas de pensar o mundo, as diferentes formas de resolver conflitos etc, elementos estes atrelados aos conteúdos atitudinais almejados para a formação dos alunos da educação básica.

 

Esse objetivo parece ser cumprido em um primeiro momento ao analisarmos os tempos e espaços em evidência nessa versão do documento. Como é possível observar no gráfico a seguir:



Gráfico 01: Recortes espaciais na terceira versão da BNCC


 

Podemos observar como, Brasil (21%), Comunidade/Local (20%) e Diversidade Espacial (18%) são os espaços mais destacados no documento homologado, apresentando assim, uma coesão com o objetivo apresentando no texto introdutório referentes aos objetivos da disciplina História.



Gráfico 02: Recortes temporais na terceira versão da BNCC


 

Em relação a temporalidade, as que mais se destacam são Tempo Presente (27%), seguido por Diversidade Temporal (13%). Essa diversidade espacial e temporal apresentada pelo documento, está atrelada a organização proposta das unidades temáticas do 1º ao 5º ano, intitulada: “Eu, o Outro e o Nós”. O aluno assim, deve aprender sobre sua experiência individual, a de outros sujeitos, próximos e distantes, e a relação dele com estes.

 

No entanto, para além de averiguarmos de forma quantitativa os tempos e espaços que estão presentes no documento, se fez necessário construirmos inferências sobre como estes estão organizados na proposta curricular. Nos questionamos: como estas temporalidades e espaços estão dispostos? Estão espaçados durante todos os anos da formação no ensino fundamental ou concentrados em determinado ano escolar? Possuem uma lógica de progressão? O que pudemos constatar é que, apesar dessa diversidade temporal e espacial ser objetivada e aparecer na proposta curricular, assim como a segunda versão da BNCC, ela também está relacionada à manutenção de um modelo curricular de História consolidado no Brasil do quadripartidarismo francês.


Considerando essa constatação, avaliamos que a proposta da terceira versão em seu texto introdutório referente à disciplina histórica, ou seja, a de pensar conteúdos substantivos atrelados à diversidade de sujeitos, cultura e sociedades, acaba por não ser suficiente, na medida em que tais conteúdos se constroem de forma subordinada a uma história que parte da Europa e não do contexto da realidade do aluno. Essa percepção é latente na construção do currículo no Ensino Fundamental II, no qual o 6º ano se inicia com conteúdos históricos referentes à Pré-História e à Idade Antiga e o 9º ano, com uma lista desproporcional de habilidades a serem adquiridas, concentrando quase a totalidade dos conteúdos substantivos que dizem respeito a categoria temporal do Tempo Presente e ao recorte espacial do Brasil.

 

Esta forma de organização curricular já possui bases bem consolidadas na educação básica e evidencia a dificuldade que nós, profissionais da História, ainda temos, de se desvincular desse modelo que alimenta desafios nossos no processo de ensino-aprendizagem, como: dialogar com a realidade dos nossos alunos e de pensar um ensino de história que não veja o aprendizado dos fatos históricos como processo final, mas sim como meio para trabalhar o desenvolvimento de procedimentos que envolvam reflexões, análises, pesquisas, questionamentos, etc, que construa a independência dos alunos e atitudes democráticas para o viver em sociedade.

 

Nesse sentido, inferimos como a terceira versão da Base Nacional Comum Curricular apresenta em seu conteúdo uma maior diversidade de recortes de espaço e tempo se comparado à segunda versão do documento, na medida em que tem como um dos objetivos principais apresentar uma grande diversidade de sujeitos e histórias para os alunos. No entanto, ao observarmos a organização destes conteúdos, este se mantém uma perspectiva eurocêntrica sobre o currículo, baseado no modelo do quadripartidarismo francês presente entre os 6º e 9º ano do Fundamental II. Nessa lógica, a história dos continentes da América, Ásia e África, que nos parece em um primeiro momento, evidenciar uma diversidade de recortes espaciais para além da Europa, estão, na verdade, subordinados aos eventos da história deste continente. Soma-se ainda a isto, os conteúdos substantivos atrelados ao estudo de Brasil se concentrarem em sua quase totalidade nos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental - Anos Finais.

 

Desse modo, as disputas sobre a construção de um currículo nacional em História evidenciam como ainda se predomina uma perspectiva que pouco dialoga com nossos estudantes, pois parece partir de uma concepção de que ensinar história está atrelado a ensinar todo o conhecimento socialmente acumulado pela humanidade, o que na prática, já ficou demonstrado em uma ampla diversidade de relatos e experiências dos professores da educação básica de que não é possível, bem como não necessário, nem tarefa da disciplina histórica. É nesse sentido que defendemos aqui, um ensino de história que parta da realidade e das demandas dos alunos, pensando a História como um instrumento para o desenvolvimento de habilidades e valores pelos alunos que os auxiliem a responder os problemas em sociedade.

Referências biográficas

 

Isabela da Silva Ferreira, licenciada em História pela UFRN e mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da UFRN.

 

Cíntia Venâncio, graduanda em História pela UFRN.

 

Referências bibliográficas

 

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

FREITAS, Itamar. Fundamentos teóricos-metodológicos para o ensino de História (anos iniciais). São Cristovão: Editora UFS, 2010.

PROST, Antoine. As questões do historiador. In: Doze lições sobre a história [tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira]. — Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.

OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de; OLIVEIRA, I. F. Base Nacional Curricular Comum: Caminhos percorridos, desafios a enfrentar. In: Erinaldo Cavalcanti; Raimundo Inácio Souza Araujo; Geovanni Gomes Cabral; Margarida Maria Dias de Oliveira. (Org.). História: demandas e desafios do tempo presente. 1ed.: EDUFMA, 2018, p. 49-63.

SILVA, Matheus Oliveira da. BNCC e o componente curricular História: como pensaram os seus críticos? Boletim Historiar. n. 23, abr./jun. 2018a, p. 85-106.

SILVA, Matheus Oliveira da. Base Nacional Comum Curricular: a história disputada em duas versões. Revista do Lhiste, Porto Alegre, n.7, vol.5, jul/dez. 2018b. p. 112-128.

13 comentários:

  1. Quero agradecer a oportunidade de reflexão despertada pelo texto e destacar o cuidado que tiveram com a descrição da condução metodológica da pesquisa. Diante da análise a partir das categorias tempo e espaço e das afirmações: "Currículo como o que se ensina com objetivo de constituir sujeitos históricos e forjar identidades." e "[...] as disputas sobre a construção de um currículo nacional em História evidenciam como ainda se predomina uma perspectiva que pouco dialoga com nossos estudantes [...]", seria possível vocês comentarem um pouco mais sobre a vossa percepção do que a terceira versão indica quanto a intenção de formação de sujeitos históricos e identidades?
    Alessandra Bertasi Nascimento

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    1. Olá, Andressa. Obrigada pela leitura e comentários sobre o texto!

      Como resposta a sua pergunta, em síntese, acreditamos que esta versão do documento, coloca como principais intenções a formação de alunos críticos e autônomos capazes de perceber a grande diversidade de sujeitos e identidades na história. No entanto, nosso trabalho tentou avaliar para além do discurso posto no documento, se este objetivo se demonstra na forma da organização curricular e o que pudemos inferir é que, ao se manter uma proposta baseada no quadripartidarismo francês, a elaboração do documento, parece manter também uma perspectiva de que as habilidades pretendidas para que os alunos alcancem estão mais relacionados ao saber dos conteúdos substantivos da história, vendo estes como seu fim, do que as habilidades para desenvolvimento da efetiva autonomia dos alunos, como: saber pesquisar, questionar, avaliar, inferir, etc. Visto que se centra em tentar abarcar todos os eventos históricos da pré-história até os dias de hoje, reduzindo o ensino de história a esta tarefa.

      Espero que tenha conseguido responder sua questão. Obrigada!
      Isabela da Silva Ferreira

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  2. Parabéns as duas autoras por tal reflexão tão importante para nossa práxis enquanto professoras-historiadoras! Concordo plenamente com vocês quanto a importância de se fazer "recortes" de espaço/tempo que contemplem as carências de orientação no tempo dos alunos. Diante disso, gostaria de perguntar acerca da aplicabilidade da terceira versão da BNCC, sobretudo no que concerne ao espaço destinado as "comunidades locais", pois é notável que desde a implantação do ENEM, muitas escolas [principalmente particulares] deixam de lado o ensino de história local. Infelizmente, a maioria dos alunos tem pouco ou nenhum contato com a História do Rio Grande do Norte [no caso de onde vivo], nem sequer como problemáticas instigadoras no ensino. Sendo assim, gostaria que vocês comentassem um pouco sobre isso, como seria possível minorar tal problema?
    Novamente parabenizo a dupla! Tenham uma gloriosa semana!
    Krishna Luchetti

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    1. Olá, Krishna! Obrigada pela leitura e comentários!

      Acredito que o ensino de história local é um elemento importante na construção do processo de ensino-aprendizagem da história na educação básica, pois estão diretamente conectados com a realidade dos alunos. Este é um elemento que deve estar presente no currículo e a versão da BNCC consegue trazer essa dimensão na sua proposta. No entanto, percebemos que este elemento está mais restrito aos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano), e não tão presente nos anos finais que parte do modelo do quadripartidarismo francês. Nesse sentido, o que avalio como importante é que o professor possa refletir sobre qual o objetivo que ele pretende naquela determinada aula/sequência didática. Se este avaliar que trabalhar com os conteúdos relacionados com a história local será o melhor meio e ferramenta para trabalhar determinado objetivo formativo com os alunos, acredito que este deve fazer uso deste. O que sempre devemos ter como norteador são nossos objetivos com o ensino da história e os conteúdos históricos estão dispostos para nos auxiliar no processo.

      Mais uma vez obrigada pelos comentários! Abraços calorosos!
      Isabela da Silva Ferreira

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  3. Carmem Lúcia Gomes De Salis25 de maio de 2021 às 10:02

    Parabéns e obrigada às autoras pela importante reflexão, neste momento em que estamos em fase de adaptação às orientações da BNCC. Em seu texto a BNCC, faz referência a um ensino que possa desenvolver o pensamento autônomo do estudante. Ao historicizar a trajetória do documento e sua versão final, como vocês vêem a concretização dessa possibilidade, haja vista a permanência de uma tendência quadripartite da história, bem como a quantidade de conteúdos estipulados para cada série?

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    1. Olá, Carmem! Obrigada pela leitura e comentário!

      Sua pergunta me fez refletir sobre a importância da escolha metodológica que fizemos, pois foi justamente a partir da análise de conteúdo, da quantificação dos tempos e espaços apresentados pelo documento e a forma como estes foram dispostos é que pudemos perceber que o discurso e os objetivos com quais o documento se propõe, encontra pouca reverberação na sua proposta curricular. Nos questionamos: como o aluno pode pensar a diversidade de sujeitos e identidades na história e a sua autonomia se a própria proposta curricular está assentada em uma perspectiva eurocêntrica e que prevê os conteúdos históricos mais como fim do que como meio para o processo de ensino-aprendizagem e construção de habilidades? Em síntese, acreditamos que a versão homologada da BNCC pouco avança nas próprias propostas que defende no seu texto.

      Novamente, obrigada pelos comentários! Abraços!
      Isabela da Silva Ferreira

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  4. Parabéns às autoras pelo o trabalho de pesquisa e a reflexão colocada. Muito interessante a exposição dos dados da forma que está, fica bem claro o que foi colocado pelas autoras sobre a permanência da visão eurocêntrica na BNCC. A crítica a BNCC está muito bem fundamentada, parabéns! Sobre a primeira versão da Base, enquanto professora e historiadora, concordo que foi uma tentativa valiosa de aproximar a história da vida prática dos alunos, o que penso ser fundamental para um ensino de história que ultrapasse os limites da história enquanto disciplina escolar. Sinto não ter sido essa a BNCC atual, porém de 2015 para cá a "coisa" só piorou. A primeira versão da Base causou bastante impacto, inclusive entre os historiadores, principalmente aqueles ligados a área de história antiga e medieval, que se sentiram desprivilegiados. Gostaria de saber das autoras, qual a opinião de vocês a respeito dessa discussão?

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    1. Olá Erica e Marlene, obrigada pela leitura e comentários!

      Sobre os elementos mencionados, acreditamos que esta avaliação feita pelos colegas, principalmente da história antiga e medieval, evidenciam um desafio que nossa área possui atualmente sobre qual é o papel do ensino de história na educação básica. Os debates que aconteceram à época estiveram focalizados sobre a diminuição ou não de determinados conteúdos históricos na proposta curricular para o ensino básico. Nessa perspectiva, parece-nos que o ensino da história estaria atrelado a ensinar todos os feitos e eventos ao longo da história da humanidade, em vez de se focalizar em como estes conteúdos substantivos podem ser meios para o desenvolvimento de habilidades que desenvolvam a autonomia do educando. Infelizmente, por disputas do campo, de ter mais espaço, valorização, recursos, etc. de determinados campos da História, acaba-se não pensando que as finalidades da história na educação básica são diferentes das dos espaços de pesquisa.

      Espero que tenha conseguido responder sua questão. Obrigada!
      Isabela da Silva Ferreira

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    2. Essa predominância eurocentrica na terceira versão da base muitas vezes limita a visão do aluno sobre a sua história, e consequentemente sobre o ensino de historia. Além disso, como todo campo de pesquisa a história possuir seus espaços de debate e se disputa. Atualmente existe como sitado uma grande ênfase em história antiga e medieval, isso pode acarretar uma desmotivação nos discente uma vez que, esse contexto está distante da realidade do sujeito.

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  5. Isabela e Cíntia,

    parabenizo pela discussão tão necessária.
    A crítica colocada é muito pertinente e fundamentada.

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    1. Olá Alcimara! Muito obrigada pela leitura e comentário! Qualquer coisa estamos a disposição!

      Isabela da Silva Ferreira

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  6. Gostaria de começar agradecendo ao trabalho de pesquisa que vocês, Isabela e Cíntia, trouxeram para este evento. Refletir sobre a BNCC, o currículo e a forma como pensamos o ensino de História é fundamental nesse momento. Como professor de História do Ensino Fundamental e Médio, vejo que seguimos travados nessa visão eurocêntrica que segue balizando o currículo. A apostila que estou usando chega a nomear o capítulo referente à história de Grécia e Roma como "berço da civilização", reforçando a mitologia fundacional de uma História que já deixou de fazer sentido há tempos. Apesar do avanço nos debates, como vocês apresentaram, sinto que pouco conseguimos avançar no sentido de superar essa história tradicional, com marcas ainda claras de um positivismo deslocado e anacrônico. Como o documento atual da BNCC segue com estes problemas, gostaria de saber como as autoras pensam o processo de resistência à BNCC, e como professores pelo Brasil podem pensar em estratégias para ir além de suas limitações.

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  7. Obrigado pelo comentário. Como indicado na descrição da base comum, esse documento tem caráter normativo e de orientação. Essa característica permite ao professor uma certa liberdade de escolha sobre o conteúdo trabalhado, o tempo é o espaço.

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