Ana Paula dos Santos Reinaldo Verde

          RELAÇÕES POSSÍVEIS ENTRE HISTORIOGRAFIA FONTES HISTÓRICAS E A                                                                EDUCAÇÃO HISTÓRICA

 

 

A produção historiográfica no ensino de História tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, dando ênfase ao local e ao regional, e incorporando ou ressignificando temas, como: cotidiano, mulher, criança, religião e escravidão, estabelecendo assim novas articulações entre produção historiográfica e ensino de História.

 

A partir da primeira metade do século XX, a historiografia conheceu uma ampla renovação das suas concepções. A Escola dos Annales, iniciada na França a partir da década de 30 e liderada por Bloch e Febvre, deu impulso a um profundo movimento de transformação no campo da História, centrando-se na produção da história-problema em torno das mentalidades coletivas, permitindo uma maior apropriação sobre o conhecimento do passado, principalmente a partir de novas fontes de pesquisa. Direcionou seus estudos para o campo social e econômico, e introduziu novas ideias sobre a concepção de documentos e sua utilização como fonte histórica.

 

Em nome de uma História problematizadora, uma geração de historiadores passou a questionar com mais ênfase as grandes generalizações, caracterizadas agora como: elitista eurocêntrica, individualista, objetiva e factual. O documento, escrito e oficial, concretizava aquela noção do fato em sua totalidade, negando à História a pluralidade e a polissemia, bandeiras levantadas pelos Annales. Novos objetos, novas fontes e metodologias passaram a ser incorporadas, fornecendo novas visões aos estudos históricos. A partir da primeira geração dos Annales, houve uma nova perspectiva sobre os objetos de estudo da História.

 

Assim, não bastava documentos oficiais que dessem credibilidade aos fatos, o homem passou a ser priorizado dentro de sua historicidade. Inaugurando a segunda geração, Braudel apresentava em sua obra fatores não só econômicos, mas da organização social e da psicologia das mentalidades, dando ênfase a interdisciplinaridade que aproximou a História das Ciências Sociais, sobretudo, da Sociologia. Braudel (1983) desenvolveu, no Mediterrâneo, alguns conceitos pertinentes sobre os diversos tipos de tempo que se cruzam na história das sociedades: a primeira parte da obra é dedicada ao tempo longo, tendendo à inércia e estagnação, à história quase sem tempo; a segunda parte se volta para o tempo médio, ou seja, uma história cambiante com as conjunturas sociais, econômicas e políticas; e a terceira parte seria um tempo curto dos acontecimentos, subordinado às estruturas totalizantes da História.

 

A “era Braudel” foi caracterizada pela produção de grandes obras de história total, com ênfase nos aspectos socioeconômicos e suas relações com os meios geográficos (REIS, 2004). Na terceira geração, a historiografia francesa, em meados dos anos de 1960, incorporou problemas que se articulavam a movimentos afirmativos das minorias, redimensionando o papel das mulheres, crianças, homossexuais e pobres. Jacques Le Goff, Revel e André Burguiere abriram caminho, segundo Cardoso e Vainfas (2012, p. 113), para a produção historiográfica francesa, levada do “porão ao sótão”, metáfora utilizada para enfatizar uma importante mudança historiográfica: o deslocamento das preocupações de base socioeconômica para os processos mentais e suas representações.

 

Para Burke (2010), a nova História surge dando ênfase a história das pessoas comuns, ao seu cotidiano, a utilização de outros tipos de fontes, como iconográficas, relatos orais, diferentes linguagens, não valorizadas pelo historicismo francês.

O termo “Historia Nova” foi ganhando espaço, com autores como Certeau, Jacques Le Goff e Pierre Nora, que incorporaram diversos tipos de fontes em suportes variados e novos procedimentos metodológicos. O domínio de técnicas e linguagens aplicáveis a documentos de diferentes tipos (escritos, iconográficos, orais, musicais, etc.) requereu, desde então, um exercício constante e recorrente de pesquisa, não havendo uma fórmula única para lidar com eles. A recomendação de caráter mais geral é jamais encarar os documentos como reflexos da verdade, pois todos são partes constitutivas das relações sociais.

 

Nesse intento, a partir de 1960 toma corpo uma verdadeira “revolução documental”, o que fez Le Goff argumentar que o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. O historiador assim começa a “[...] fazer falar as coisas mudas [...].” (LE GOFF, 1996, p. 535-536).

 

O oficio do historiador, eternizado no livro de Marc Bloch (2001), foi assim sistematizado por Certeau:“o historiador tem “o tempo” como “material de análise” ou como objeto específico, trabalha de acordo com os seus métodos, objetos físicos (papéis, pedras, imagens, sons, etc.), que distinguem no contínuo do percebido, a organização de uma sociedade e as pertinências próprias de uma ciência. Trabalha sobre um material para transformá-lo em História. Empreende uma manipulação que, como as outras, obedecem as regras” (CERTEAU, 1982, p. 79).

 

Compreendemos nas palavras de Koselleck (2006) que ofício do historiador, deixou de ser apenas o de relatar histórias, passando a “criá-las”, e o documento foi sua expressão maior. Ou seja, o historiador deve ter a consciência que a História é presa pelas fontes, e que as mesmas “não falam”, quem fala é o historiador.

 

A verdade histórica, representada pelas fontes históricas, não pode se reduzir a um discurso simples, fechado, homogêneo e atemporal. Necessita de um olhar exaustivo e multifacetado, entendendo que as possibilidades de uma interpretação histórica são infinitas, e é o historiador que passa a ser um intérprete das fontes e das explicações que suscitam, e sobremaneira oportunizando o desvelar diante das fontes históricas.

 

O discurso da História é estabelecido como um texto, passível de interpretações, sem tornar-se uma verdade absoluta, sendo possível por conta dos padrões de compreensão de um fato ou de um contexto específico emergir construções sobre uma determinada verdade histórica. Trata-se de uma representação histórica, sua natureza advém de fonte original, acrescida de contextualização, fatos determinantes da época e das histórias de seus indivíduos.

 

O trabalho do historiador se faz a partir de fontes, que são basicamente os vestígios deixados pelo homem ao longo do tempo. Sem fontes, não há História. Podem ter as mais distintas origens e cada uma, a sua maneira, traduzir aspectos que dão a conhecer elementos do passado. É a partir das fontes que o historiador extrai os dados que utilizará para a escrita da História.

 

Os fatos nunca são coisas dadas, mas o resultado de um diálogo entre o documento e o seu leitor. Dependem das perguntas que o historiador propõe, dos elementos que tem para poder confrontar com outros dados, do cruzamento com outras fontes. “Não há fonte neutra, nem que traga a verdade absoluta. Uma história nunca é idêntica à fonte que dela dá testemunho. Se assim fosse, toda fonte que jorra cristalina seria já a própria História que se busca conhecer.” (KOSELLECK, 2006, p. 48).

 

As fontes históricas e seu caráter documental possibilitam uma reflexão acrescida de contextualização e sentido para com as teorias e a renovação historiográfica e no ensino de História há uma necessidade no intuito de se refletir sobre a prática docente e a promoção de uma educação histórica, ou seja, permitir que haja uma relação coerente e crítica no que concerne a aprender e ensinar História, a partir da compreensão e da formação da educação histórica de alunos e professores.

 

Educação Histórica e o ensino de História

 

A Educação Histórica é um caminho a ser trilhado para que o ensino de História tenha significância diante das novas linguagens. Segundo Barca e Schmidt (2009, p. 12), a Educação Histórica busca dar “respostas sobre a construção do pensamento histórico e a formação da consciência histórica de crianças e jovens.” Ao fazê-lo, cria possibilidades no ensino de História que resultam no ‘aprendizado histórico’, resultado da utilização de diferentes documentos históricos na efetivação da consciência histórica.

 

A Educação Histórica é muito mais que um enfoque teórico, é prática, vivência, é um caminho para os diferentes saberes sobre a historiografia trabalhada em sala de aula, contribuindo para a busca de entendimentos acerca das diferentes formas de criar, manifestar, expandir e influenciar no contexto social e escolar. Moreira (1994) relata que o ensino de História interativo e multifacetado foge aos padrões do tradicional para dialogar com novas experiências, pautadas no princípio da construção histórica e social.

 

As novas linguagens (fontes históricas) no ensino de História são ferramentas ou metodologias que representam instrumentos de reflexão e de construção de saberes conscientes, a partir de ações no processo ensino aprendizagem. Entendemos, dessa forma, que as implicações da renovação historiográfica para o ensino de História e as fontes históricas precisam ser cuidadosamente observadas, no sentido de possibilitar um novo redirecionamento do papel do professor de História no contexto escolar e acadêmico, um movimento de reflexão na e sobre a prática. Pimenta (1999), ao tratar da formação de professores para a constituição da prática pedagógica enfatiza que se faz necessário pensar a formação dos professores, a partir da reelaboração constante dos saberes que realizam em sua prática, confrontando suas experiências nos contextos escolares, como espaço de trabalho e formação constante.

 

Os professores exercem um papel relevante na estruturação e produção do conhecimento pedagógico e estas ações refletem na instituição escolar, no aluno e na sociedade em geral. Desta maneira, o professor tem papel ativo na educação e não um papel simplesmente técnico que se limita à execução de normas e receitas ou à aplicação de teorias exteriores à sua própria identidade profissional. Para Fonseca (2003) o curso de Licenciatura e os formadores de professores possuem uma dupla responsabilidade: produzir conhecimentos e formar professores capazes de refletir criticamente, sobre seus saberes, suas práticas, enfim suas identidades.

 

No contexto escolar faz se necessário uma tomada de consciência histórica com postura metodológica baseada na pesquisa, na qual se invista na autonomia do aluno, oferecendo oportunidades para que o mesmo seja construtor do seu conhecimento, contribuindo para que as várias reflexões que ocorreram e que ocorrem no contexto educacional e na sociedade, se concretizem de fato em sala de aula.

 

Por um ensino de História pautado na educação histórica

 

Ao professor de História, no desempenho de seleção e organização dos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula, é fundamental que o mesmo seja capaz de situar os referenciais teóricos ou historiográficos, acompanhando as principais tendências da produção historiográfica, pois é a partir de uma definição ou concepção de História que podemos nos posicionar e conduzir uma aprendizagem minimamente coerente, relacionada ao ensino de História e ao contexto escolar.

 

Segundo Bittencourt (2011), situar os referenciais teóricos no processo de seleção de conteúdos escolares não tem como objetivo a participação em debates acadêmicos, mas é uma necessidade para o trabalho docente que permanentemente se realiza na escola.

 

Os debates acadêmicos devem estar em sintonia com a pesquisa na escola e não podem surgir de forma isolada sem uma função social objetivada, pois é a partir de uma concepção de História que podemos nos posicionar e conduzir uma aprendizagem minimamente coerente e com uma função social, relacionada ao ensino de História e ao contexto escolar

 

Para Karnal (2003), o professor deve ter consciência do seu papel diante dos seus alunos, saber relacionar a teoria com as culturas presentes em sala de aula. Destaca que mais do que o livro didático, o professor deve ter conteúdo (teoria), saber relacionar, comparar, de forma interdisciplinar, levando em consideração o contexto em que o aluno está inserido, colocando-o como sujeito histórico-critico e autônomo.

O que o autor propõe é que o ensino seja direcionado para a iniciação à pesquisa, acompanhada de cuidados teóricos e metodológicos, ou seja, o professor deve ter conteúdo (teoria), sabendo relacionar de forma interdisciplinar o conteúdo e o contexto em que o aluno está inserido, colocando-o como sujeito histórico-critico.

 

A sala de aula torna-se um espaço de conhecimento e pesquisa, uma relação entre a historiográfica, problematizações históricas e a reconstrução de histórias até então silenciadas, por intermédio das narrativas dos alunos e suas relações com as fontes históricas. Schmidt e Garcia (2005) ressaltam a importância da aula de História como espaço de formação de consciência histórica, propondo que seja um espaço de conhecimento e pesquisa, possibilitando aos alunos inserir-se no processo histórico, fazendo que tomem contato com a renovação historiográfica, a construção de problematizações históricas e a reconstrução de histórias até então silenciadas, por intermédio de transposições didáticas factíveis ao ambiente em que se aplicam.

 

Para esses autores, o ensino de História deve estar articulado àquilo que o aluno vivencia, dando ênfase a uma educação cidadã, ou seja, uma História que tenha sentido e importância para uma reflexão sobre a sociedade que o cerca.

 

A História que chega aos alunos nas escolas pronta e verticalizada retira as possibilidades de dimensão crítica e experiencial de suas interpretações. O âmbito historiográfico aparece dissociado da prática, não havendo uma convergência dialógica com a prática entre a dimensão da disciplina escolar e a dimensão da ciência História.

 

Como aponta Fonseca ao relatar que: “A formação do aluno/cidadão se inicia e se processa ao longo de toda a sua vida nos diversos espaços de vivência e que, todas as linguagens, são frutos de múltiplas experiências culturais e contribuem com a produção dos saberes históricos, responsáveis pela formação do pensamento, tais como os meios de comunicação de massa – internet, rádio, TV, imprensa em geral -, cinema, tradição oral, monumentos, museus etc.” (FONSECA, 2003, p. 164).

 

Portanto, quando nos referimos ao caráter relacional entre a historiografia, as fontes históricas e a educação histórica direcionaram nossas ideias para as ferramentas culturais criadas por nossa sociedade e que fazem parte do nosso cotidiano, quais sejam: cultura material, imaterial, música, literatura, internet, imagens, etc., possibilidades para além dos limites do livro didático, que muitas vezes deixa de ter significância no processo ensino aprendizagem para o professor historiador, e, sobretudo, para o aluno.

 

Nessa perspectiva, a relação entre a historiografia, as fontes históricas escola, e a educação histórica parte da concepção de que em nome de uma História problematizadora, a educação histórica atribui uma utilidade e um sentido social e local ao conhecimento histórico, objetivando a formação da consciência histórica, e, por conseguinte, a mesma deve estar relacionado ao contexto escolar e a realidade em que se está inserido, possibilitando a construção de uma crítica pelo próprio aluno, conduzida pelo professor historiador e a sua aproximação com o contexto histórico abordado em um processo de desenvolvimento crítico.

 

Referências biográficas

Ana Paula dos Santos Reinaldo Verde é Professora da Educação Básica no Maranhão. Possui graduação em História e Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão (2007). Especialista em Psicopedagogia pela Faculdade Internacional de Curitiba e Psicologia da Educação pela Universidade Estadual do Maranhão Mestrado Profissional em História Ensino e Narrativas pela Universidade Estadual do Maranhão e Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. E-mail:napaularenaldo@gmail.com

Referências bibliográficas

 

BARCA, I.; SCHMIDT, M. A. (Org.). Aprender história: perspectivas da educação histórica. Ijuí: Editora Unijuí, 2009.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

BURKE, P. A Escola dos Annales: 1929-1989. São Paulo: Edit. Univ. Estadual Paulista, 2010.

CERTEAU, M. de. A operação historiográfica. In: CERTEAU, M. de. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982, p. 79.

FONSECA, S.G. A incorporação de diferentes linguagens no ensino de história. In: ______. (Org.). Didática e Prática de ensino de História: experiências, reflexões e aprendizagens. Campinas: Papirus, 2003.

KARNAL, Leandro.  História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003.

KOSELLECK, R. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Patrícia Maas e Carlos Almeida Pereira; Rio de Janeiro: Contraponto; Ed. PUC-Rio, 2006.

LE GOFF, J. Documento/Monumento. In: LE GOFF, J. História e Memória. Rio de Janeiro: Unicamp, 1996. p. 553-552.

MOREIRA, Antonio Flávio. Conhecimento educacional e formação do professor. Cmpinas, SP: Papirus, 1994

 

REIS, J. C. A história entre a filosofia e a ciência. 3. ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

SCHMIDT, Maria A. M.; GARCIA, Tania M. F. Braga. A formação da consciência histórica de alunos e professores e o cotidiano em aulas de história. Cad. Cedes, Campinas, v. 25, n. 67, p. 297-308, set./dez. 2005.

VAINFAS, Ronaldo. Idolatrias e milenarismos: a resistência indígena nas Américas. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 5, n. 9, p. 29-43, jul. 1992. ISSN 2178-1494. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2329/1468>. Acesso em: 4 fev. 2021.

33 comentários:

  1. Gratulo primeiramente o texto apresentado, acerto que faria uma diferença enorme em sala de aula trabalhando da forma descrita, a historiografia, as fontes históricas, e a educação histórica que se completa no sentido de fazer o aluno se questionar e problematizar o assunto em questão, minha dúvida seria a respeito de trabalhar essa problematização no âmbito da religiosidade, de que forma seria feito a amenização do impacto ao estudo de outras religiões? Que não sejam o cristianismo ou catolicismo, as religiões mais estudadas em sala, pois eu vejo que há uma ainda uma certa intolerância a respeito do mesmo.
    Karen Paola Castelo Branco Gomez

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    1. Olá, Karen! Grata pela pergunta! Tratar sobre religião na educação básica requer propriedade sobre o tema (teoria)e conhecer o contexto escolar e as possibilidades de problematização; conduzir as narrativas dos alunos sobre religião a partir de suas vivências seria uma boa inserção relacional entre o conteúdo ministrado em sala de aula e as percepções sobre as intolerâncias que ainda persistem na sociedade contemporânea. Não há um modelo pronto de aula, e isso já é um bom começo compreender essa perspectiva.

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    2. Karen Paola Castelo Branco Gomez24 de maio de 2021 às 13:45

      Com toda certeza! Muito obrigada pela resposta Ana Paula!!!! :)

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  2. Muito interessante o texto e a proposta estabelecida.
    A reflexão sobre a historiografia e como isso se relaciona ao ensino de história transpassa os muros da academia e possibilita a construção do conhecimento histórico não apenas pelo historiador-pesquisador, mas também pelo professor e aluno de história, que podem interpretar as fontes com as perspectivas que trazem de seus próprios contextos. Além disso, as possibilidades de significação da realidade cotidiana por meio do ensino de história pelo viés da Educação Histórica, amplia não apenas o conhecimento do passado, mas permite que o aluno seja parte da construção desse passado e se sinta parte da História.
    Nesse sentido, meus questionamentos são os seguintes:
    - Como você observa esse processo na prática de ensino?
    - Na academia, geralmente trata-se desses temas de forma mais teórica e não necessariamente em conjunto com a prática docente, como se esses espaços, apesar de relacionados, estivessem separados. Então como você percebe essa divisão na produção do conhecimento histórico?
    Agradeço a atenção.
    Sandiara Daíse Rosanelli

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá, Sandiara! Questões históricas na formação do professor do ensino superior e a sua própria formação exigida conforme a LDB 9.394/96 são questões a serem pensadas quando a Universidade se propõe a desenvolver ensino, pesquisa e extensão. O que não pode acontecer, haja vista o desmonte da educação de forma progressiva, é ainda persistir a pesquisa na academia sem práxis social e sem direcionamento para a escola básica, fazer pesquisa com os professores e não para os professores, pois as licenciaturas formam ou deveriam formar um professor pesquisador de sua práxis relacionando teoria e prática no sentido histórico.

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    3. Agradeço os esclarecimentos. Concordo com essas suas colocações, especialmente por perceber essa distinção entre academia e a escola na produção do conhecimento durante minha formação acadêmica.
      Agradeço a atenção.
      Sandiara Daíse Rosanelli

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  3. Parabéns pelo texto!
    Minha pergunta se faz na atual conjuntura na qual se encontra as ciências sociais. Disciplinas como Sociologia e Filosofia recentemente tiveram suas cargas horárias reduzidas, e em alguns casos, até tiradas da grade curricular. Isso se tornou um reflexo da política promovida pela Medida Provisória nº 746, que articulou mudanças para o novo ensino médio. Nesse sentido, percebe-se que certas políticas que envolvem o debate sobre a educação no Congresso nacional, passaram a questionar a importância das ciências humanas para a formação educacional, se enquadrando dentro uma perspectiva utilitarista do ensino, que promove a ideia de que as ciências humanas tem servido de palco para se criar "militâncias políticas" dentro da escola e não desenvolvem um papel prático para a vida profissional dos alunos. Deste modo, qual sua opinião em relação ao desmembramento das ciências humanas no currículo? O ensino de história pode ser o ponto de partida de uma resistência desse projeto?

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    1. Olá, John Lennon! A Didática da História é um sonho possível e necessário diante do desmonte da educação (escola pública e universidade).

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  4. Olá Sandiara! Satisfação! As práticas de ensino (didática) vigentes na Educação Básica são heranças de uma didática técnica ainda muito presente no cursos de formação de professores que é um projeto neoliberal de educação para o mercado de trabalho e a Universidade por sua historicidade ainda deixa uma lacuna entre os elementos ensino, pesquisa e extensão o que reverbera numa perspectiva mais historiográfica para a pesquisa distanciada da realidade da escola básica. A Didática da História vem de pronto desde a década de 80 com Russen, Barca e outros autores brasileiros importantes como Schimdt para pensarmos uma outra Didática para o ensino de História!

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    1. Agradeço os esclarecimentos, de fato a didática da história ligada a Educação Histórica de Rüsen ajuda a pensar o ensino de história por outra perspectiva.
      Agradeço a atenção.
      Sandiara Daíse Rosanelli

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  5. ¿Cómo abordar en la escuela la relación entre fuentes históricas y aprendizaje histórico más allá de la dimensión cognitiva?

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    1. Olá, Nilson! Para além do cognitivo na aprendizagem, possibilidades de relacionar, identificar, dentre outras, as fontes históricas como metodologia de ensino devem ter relações sócio históricas com esse fazer docente.

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  6. Parabéns pelo texto!
    Como trabalhar a temática para os alunos portadores de necessidades especiais? Percebo uma escassez de material voltado para esse público.

    Sérgio Henrique Pereira de Souza Ramos

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    1. Olá, Sérgio! De fato historicamente não há material didático especifico para os alunos com deficiência, fica a cargo do professor que legalmente deveria ter apoio pedagógico de outros profissionais, o que não ocorre, enfim situação que ocorre em salas de aula do Brasil e acredito que tratar sobre educação histórica com esse alunos é dentro das possibilidades singulares tratar de forma contextualizada os conteúdos e dentro das condições materiais existente.

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  7. Muito bom o texto.
    Amo Educação histórica e defendo a ideia da história sendo dinamizada no ensino, pela própria História.

    Quais desafios ainda precisam ser superados no processo formativo, em nossas licenciaturas, para avançarmos no debate proposto?

    ADAIANE GIOVANNI

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    1. Olá, formação inicial com pesquisa no contexto da escola com os professores da escola e da Universidade num dialogo de fortalecimento e colaboração, desde o inicio do curso de licenciatura, para isso acredito que o Projeto Pedagógico deve ser pensado e construído com atores e autores da escola e Universidade

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  8. Questões históricas na formação do professor do ensino superior e a sua própria formação exigida conforme a LDB 9.394/96 são questões a serem pensadas quando a Universidade se propõe a desenvolver ensino, pesquisa e extensão. O que não pode acontecer, haja vista o desmonte da educação de forma progressiva, é ainda persistir a pesquisa na academia sem práxis social e sem direcionamento para a escola básica, pensar e propor ações de fazer pesquisa com os professores e não para os professores, pois as licenciaturas formam ou deveriam formar um professor pesquisador de sua práxis relacionando teoria e prática no sentido histórico.

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  9. Olá Ana Paula.
    A Educação Histórica tem por compromisso fundamental o processo de formação e desenvolvimento da Consciência Histórica em espaços escolares. A partir das fontes históricas, os estudantes conhecem o passado, interpretam o presente e orientam-se no tempo, projetando-se para perspectivas futuras. Esse movimento que parte das carências de orientação da vida prática, busca nas fontes históricas a orientação temporal. Considerando que a vida prática é marcada pela cultura do sujeito que aprende, como a História pode relacionar as fontes históricas, as narrativas historiográficas e a compreensão que os estudantes constroem quando as acessam, de forma a assegurar uma aprendizagem com sentido para a vida prática?
    Obrigada.
    (Estou lendo a obra “Didática reconstrutivista da história”, de Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt, 2020)

    DANIELE SIKORA KMIECIK

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    1. Olá, Daniele! Considerando sua pergunta sobre "a vida prática é marcada pela cultura do sujeito" acredito que a vida prática é marcada pelos interesses capitalistas vigentes e que nessa perspectiva a vida prática torna-se unilateral e penso que tratar sobre a relação fontes históricas, narrativas historiográficas e a subjetividade (estudantes) requer teoria omnilateral daí o sentido da consciência histórica.

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  10. Boa noite, Ana!
    Muito interessante a temática trazida pelo texto, relação entre historiografia, fontes históricas e o ensino de História com ênfase na pesquisa visando a uma educação cidadã, baseada na vivência de alunos/as. De acordo com essa abordagem quais seriam as sugestões aos docentes dos anos iniciais do ensino fundamental para implementarem uma prática fundamentada nessa concepção, considerando que na grande maioria esses profissionais são generalistas, pedagogos e não possuem uma formação específica em História?
    Aguardando.
    Obrigada!

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    1. Boa tarde. Acredito na formação continua e no compromisso com a educação e com os sujeitos escolares, trazer sentido social para a sala de aula e fora dela é necessário e pontual.

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  11. Excelente texto! Muito rico em conhecimento e possui propostas bem reflexivas. Percebi que você citou a questão da interdisciplinaridade, algo que é visto também na obra “Apologia da História” de Bloch, a qual cita a importância de uma colaboração interdisciplinar no processo histórico. No seu ponto de vista de que forma a interdisciplinaridade pode contribuir no processo historiográfico e no ensino de História em sala de aula?

    Robson Araújo Pantaleão

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    1. A interdisciplinaridade epistemologicamente é um campo a ser conhecido para além da objetividade cientifica; o que torna possível o dialogo entre a historiografia e o ensino de História em sala de aula, tratar o ensino ou didática da História de forma não técnica e sim de forma situacional já é um começo.

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  12. Boa noite, Ana Paula.
    Primeiramente muito obrigado pelo texto, ao longo do trabalho você cita a importância do professor de História na questão da seleção e organização dos conteúdos a serem trabalhados acompanhando sempre as principais tendências da produção historiográfica, atualmente no Brasil há uma grande defasagem na formação e atuação desses profissionais, muitos professores que lecionam História sequer são formados na área, não é nenhuma novidade que essa é uma prática corriqueira de norte a sul, por diversas vezes vi colegas das mais diversas formações atuando como professores de História e vice-versa, você considera que esse é um dos motivos para essa “História verticalizada”? É possível dar uma aula de História problematizadora e de qualidade sem ser formado na área?

    Denis Garcez de Oliveira

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    1. Boa tarde. É possível dar uma aula de História problematizadora e de qualidade sem ser formado na área? Colega Denis, se pensarmos numa educação de qualidade como politica e prática social é necessário a formação na área e formação contínua, infelizmente as DCN para formação de professores rema para o lado contrário!

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  13. Bom dia!

    Quero parabeniza-la pelo excelente texto.

    Sabemos que a cada dia ensinar História tem se tornado desafiador, e contribuir para que seja gerado no alunado a educação histórica, objetivando o interesse pela pesquisa, criticidade, reflexão, etc. é uma das atividades docente indispensáveis.
    Em tempos de ensino remoto e ensino híbrido, o que os docentes de anos finais do ensino fundamental poderiam fazer/adaptar para ampliar a educação histórica em um contexto a distância?

    Alvanir Ivaneide Alves da Silva

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    1. Alvanir, satisfação! Pensar a educação histórica a distancia é um desafio pois como afirmou em tempos de ensino remoto as dificuldades são latentes, e, penso que planejar a partir das possibilidades e contextos pode reverberar para a educação histórica e esse desafio é algo relacional entre professor e aluno.

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  14. Parabéns pelas proposições, querida Ana Paula. Este é um tema que temos muito a debater, pois as marcas do ensino mecanicista ainda são fundas em nossas salas de aula. Minha pergunta é, como vencer os desafios de turmas super lotadas e professores exaustos pelas cargas horárias para podermos consolidar a educação histórica, e todos os seus desdobramentos, como fundamento do ensino de História. Com um abraço e admiração. Marize Campos.

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  15. Satisfação, Professora Doutora Marize Campos! Refletir sobre educação histórica nessas condições materiais impostas de forma pensada por aqueles que fazem do trabalho um negócio não é fácil, não há uma resposta pronta para situações complexas de ensino e subjetividades, cada professor tem ou terá um posicionamento diante de tais situações. Vencer essa situação estrutural não é tarefa fácil, problematizar essas questões de trabalho alienante para os alunos por meio do ensino de História seria um caminho possível.

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  16. Alexandre Luiz da Silva27 de maio de 2021 às 19:30

    Olá, Ana! Tudo bem?
    Primeiro gostaria de parabenizar a produção de linguagem acessível e prazerosa e, sobretudo pela abordagem que traz um reforço para a imagem do oficio do historiador, sobretudo das novas possibilidades analíticas que fizeram da história (assim como você mesma colocou) distante de uma simples reprodução dos fatos. Certo de que essas abordagens dos annales do insterdisciplinar, do leque analítico que se desdobrou sobretudo a partir da terceira geração com o foco na mentalidade humana e nas micro-histórias, ofereceram grandes possibilidades para problematização das fontes, minha pergunta como granduando de licenciatura é:
    Em sua opinião, como poderíamos exercer essas problematizações e utilização de fontes em sala de aula para a formação curricular do aluno, frente ao curto espaço destinado a disciplina de história nas escolas e frente a recorrente utilização dos livros didáticos que reproduzem, ainda, um aprendizado mimético (aquele em que o aluno somente reproduz o conteúdo visto em sala de aula sem que que disponha de discernimento critico)?

    Alexandre Luiz da Silva.

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  17. Bom, como vimos a produção historiográfica aumentou consideravelmente nos últimos anos, a escola dos Annales com novas problemas, novas abordagens e e ampliação de novas fontes. Sabemos também da importância da consciência histórica para uma melhor compreensão da História. como podemos aproveitar melhor essas produções historiográficas em uma futura docência?

    Osias carvalho pinto

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